Google e Facebook apoiam Imprensa local
Segundo Le Monde, que aqui citamos, este obstáculo não surpreende os habitantes dos “desertos mediáticos” que cobrem uma grande parte da América.
“Mais de 1.800 jornais desapareceram nos Estados Unidos desde 2004, e o número de empregados remunerados nas redacções teve uma quebra de 45%, segundo um estudo feito em 2017 pela Universidade da Carolina do Norte. Uma consequência directa da queda das receitas da Imprensa local, tendo as agências de publicidade desertado das páginas dos jornais, e depois dos seus sites na Internet, para as grandes plataformas digitais.”
“Será que o Facebook chegou tarde demais, com a Today In? Esta rede social parece ainda decidida a apoiar os media regionais, a avaliar pelos 300 milhões de dólares (cerca de 267,6 milhões de euros) que se propõe investir nos próximos três anos, em bolsas para as redacções locais ou em fundações que sustentam os media de proximidade.”
“Numa entrevista na sua conta de Facebook, no dia 1 de Abril, Mark Zuckerberg anunciou um programa europeu de formação de jornais locais, para recrutamento de assinantes digitais. Financiado com dois milhões de euros, vai beneficiar, para já, doze editores alemães.”
Por seu lado, em artigo na Columbia Journalism Review, Emily Bell faz perguntas a respeito da mais recente iniciativa de apoio ao jornalismo local assumida pela Google, a parceria com a McClatchy Company, uma grande editora que detém cerca de três dezenas de diários em 14 Estados.
Craig Forman, o director executivo da McClatchy, garante que esta empresa manterá o controlo editorial e a posse dos conteúdos, e que a Google não terá “interferência ou envolvimento em quaisquer operações editoriais ou de decisão”.
Emily Bell tem as suas dúvidas, mas reconhece que pôr questões à Google não é fácil no presente momento, porque esta “tem tido claramente melhor reputação [better press] do que algumas das suas concorrentes, nomeadamente o Facebook”:
“Isto sucede em parte porque é mais madura, e tem muito melhores relações com a Imprensa (não tenta esconder as suas campanhas de influência, por exemplo). Também gasta mais dinheiro. O dinheiro extra que a Google fornece ao jornalismo não vai directamente para a compra de favores, ou o abafar de oposição, mas certamente faz com que muitos CEO’s e editores que conheço ponham a Google numa categoria subtilmente diferente da de outras plataformas. A sua atitude é que ‘a Google consegue’.” (...)
“Mas a incursão da Google no jornalismo local não é apenas uma questão de ajuda. Quando a empresa lançou a Digital News Initiative na Europa, foi em resposta directa à pressão vinda dos reguladores da União Europeia.” (...)
“O núcleo das plataformas tecnológicas é engenharia de software; elas estão no núcleo do nosso negócio, mas nós não estamos no delas. (...) Os seus executivos de modo geral não se importam assim tanto com o jornalismo. Eles consideram-no como Plutão no sistema solar - uma parte do que fazem, mas bastante pequena e muito distante.” (...)
“O Facebook, a Apple e a Google fazem coisas que os jornalistas deviam estar a investigar, e não a tirarem proveito delas. A Google tem negócios com o Departamento de Defesa dos EUA - embora para horror de metade dos seus funcionários - e tentou encobri-lo; o Facebook paga mal e trata mal os funcionários que lidam com as listas de conteúdos ofensivos; a Apple lida com regimes que mandam regularmente jornalistas para a prisão e controem campos de concentração de etnias. Todas estas três têm estratégias para lidar com a Imprensa, e publicam muito pouca informação sobre o que sucede nas suas plataformas ou o efeito que isso tem, tornando a reportagem de tecnologia uma forma vital de responsabilização.” (...)
Mais informação nos textos citados, em Le Monde e na Columbia Journalism Review.
Sobre os “desertos de informação” nos EUA.