Diário digital francês fecha antes de fazer um ano
O Explicite é detido, em 50%, pelos seus sócios fundadores, e em 21% pelo financeiro Guillaume Rambourg, sendo o resto do capital proveniente de outros investidores no mundo da Imprensa, como Xavier Niel (o fundador da operadora Free e accionista, a título pessoal, de Le Monde) e as agências de produção Magneto Presse e Les Films du kiosque.
Segundo Le Monde, que aqui citamos, os vinte trabalhadores remunerados do Explicite foram surpreendidos pela notícia do fecho, embora a temessem. Um dos jornalistas ouvidos declara: “Nós sabíamos bem que aquilo não andava. Fora do meio dos jornalistas, ninguém nos conhecia ou via passar os nossos conteúdos nas redes sociais.”
No entanto, “o site investiu em diversos formatos - artigos, vídeos, foto-reportagens, podcasts - sem se demarcar com uma linha editorial identificada”:
“Sem ter assinantes em número adequado, e não apresentando publicidade, não recolhia receita suficiente para continuar em actividade.”
“O modelo sem publicidade era uma escolha muito nobre, mas muito arriscada” - admite um dos jornalistas.”
Mas, enquanto os anunciantes se retiram dos sites de informação preferindo as plataformas, como Google e Facebook, o director, Olivier Ravanello, continua a pensar que a boa estratégia é a das assinaturas:
“A publicidade pela Internet não é suficientemente lucrativa para fazer funcionar uma redacção.” (...)
“O projecto do Explicite começou no princípio do ano de 2017, com mais de metade da centena de jornalistas que tinham deixado a redacção da i-Télé, no Outono de 2016, no termo de uma greve histórica que tinha durado um mês. Os trabalhadores daquela cadeia protestavam contra as escolhas do accionista, Vincent Bolloré - nomeadamente a entrada, na antena, de Jean-Marc Morandini, e exigiam garantias de independência.” (...)
No site de Explicite, o director, Olivier Ravanello, assina um editorial de despedida em que agradece a todos, tanto aos trabalhadores como aos assinantes “que nos seguiram e adoptaram”.
Recorda o início, quando a meia centena dos que saíram de i-Télé para fazer o que veio a ser o Explicite constituía ainda apenas “uma associação, um laboratório editorial nas redes sociais, durante a campanha presidencial”. Estende o agradecimento a outros, criativos, companheiros de outros meios de comunicação, amigos atentos e de boa vontade, e aos investidores “sem os quais o Explicite teria permanecido no estádio de projecto, e que assumiram o risco de nos seguir porque também eles estavam convencidos de que era importante investir na informação”:
“Hoje, talvez mais do que nunca. Porque uma sociedade mal informada vai mal e acaba por fazer más escolhas.” (...)
E conclui:
“É com o sentimento de tudo termos tentado, tudo experimentado, de acordo com uma certa ideia da Informação, que vemos agora perfilar-se o momento em que temos de deixar de escrever, de ver, de dizer e de contar. Mas nós o fizémos, e disso temos orgulho.”
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Recorde-se que, também em Portugal, o primeiro Diário Digital (com este exacto título), de cobertura nacional e exclusivamente online, começou em Julho de 1999, “numa altura em que os meios tradicionais estavam a apostar forte nas suas páginas web”.
Segundo o Observador, que aqui citamos, chegou a ter 80 pessoas, entre jornalistas, colaboradores, fotógrafos e secretariado, e com o objectivo de manter uma “actualização permanente a todas as horas do dia”, capaz de bater a Lusa.
Os problemas começaram cedo e, no início de 2001, houve um despedimento colectivo, passando para menos de metade dos trabalhadores. Tanto o Diário Digital como o regional Setúbal na Rede (que começara em Janeiro de 1998) fecharam na mesma altura, em Janeiro de 2017.
Mais informação em Le Monde, no último editorial de Explicite e no Observador