Tiago Costa, o funcionário da Sunrise Press que atende e se despede dos clientes que acompanhou durante 14 anos dedicados à livraria, conta que, se fosse por ele, designar-se-ia “revistaria”. 

Segundo a reportagem do Observador, de Ana Cristina Marques, a loja “pouco mais é do que um estreito corredor com bancas de revistas organizadas por temas de ambos os lados”. A hora do almoço, na quinta-feira, 28 de Fevereiro, “trouxe uma enchente”: 

Muitos vieram “já sabendo que o projecto ia fechar portas, embora desconhecendo que aquela quinta-feira, dia 28, era o último dia. A iminência do fim fez com que muitos deles, antes de deixarem a loja, voltassem atrás e comprassem mais revistas do que o suposto, incluindo o cliente que gastou cerca de 60 euros em revistas de História  — um tema que, por sinal, não lhe dizia assim tanto”. (...) 

“A correria à ‘Tema’ e suas revistas chegou a ser frequente, bem como as reservas de publicações. A última vez que se registou uma grande afluência a propósito de um título estrangeiro aconteceu em Fevereiro de 2015, na sequência do ataque terrorista às instalações do semanário satírico francês Charlie Hebdo, o qual fez 12 mortos — os oito milhões de exemplares da edição publicada após os atentados seriam vendidos em 25 países, Portugal incluído, Sunrise Press incluída. ‘Depois disso, já ninguém quis saber do Charlie Hebdo’, diz Tiago Costa.” (...) 

“De cima para baixo, na manhã de quinta ainda se avistavam duas filas com revistas internacionais (Monocle, Enki, Icon, Graffitti Art) coabitando com galos de Barcelos, figuras de plástico alusivas a Nossa Senhora de Fátima e malas de cortiça a lembrar o império português no que a essa matéria-prima diz respeito. No interior, a separar a loja de souvernis da livraria, um multibanco  — sobretudo apto a ler cartões internacionais do que nacionais. Nessa manhã, foram mais os clientes que entraram na loja à entrada do centro comercial para comprar postais e levantar dinheiro do que aqueles que saíram com revistas debaixo do braço.” (...) 

“Eduardo Conceição, ligado à ‘Tema’ desde 1997, ainda se recorda do corredor apertado cheio de gente com revistas e livros na mão à hora do almoço, bem como das filas para pagar. Numa altura em que a Internet tinha um peso bastante menor, eram as revistas de arquitectura, arte, publicidade ou design, a título de exemplo, que permitiam um outro olhar sobre o mundo e sobre o que se fazia lá fora.” 

“Avançando mais de vinte anos no tempo, o corredor está praticamente vazio e, ao meio, uma das primeiras pilhas de revistas. Eduardo e Tiago já começaram a empacotar as publicações. Conformados com o fim  — e ainda com paciência para falar aos clientes que se vêm despedir do espaço — asseguram que não querem sair muito tarde.” (...)

 

A reportagem aqui citada, na íntegra no Observador  - a que pertencem também as imagens reproduzidas, de João Porfírio