Arianna Huffington deixa a vigília permanente do jornalismo digital
Emily Bell enquadra o cerne da questão num primeiro parágrafo que vale a pena ler na íntegra:
“Para muitos jornalistas, não há ironia maior do que Arianna Huffington, a publisher homónima do Huffignton Post, demitindo-se do seu cargo na empresa que fundou há onze anos para dedicar mais tempo a uma recém-criada empresa de bem-estar cujo foco é sugerir que devemos dormir mais. O Huffington Post construiu seu sucesso ao participar da aceleração do ciclo de notícias 24 horas por dia, enchendo páginas com colaborações não remuneradas e, de uma maneira geral, contribuindo para um ambiente que os outros publishers não achavam nem um pouco relaxante. Mesmo usando um travesseiro especial.”
Quando o seu novo jornal apareceu, em 2005, “as principais organizações jornalísticas tinham motivos para acreditar que haveria um futuro para novos sites financiados pela publicidade; o futuro parecia mais promissor do que o fora nos cinco anos antecedentes”.
Mas a sua abordagem “empurrava a prática digital para muito além do que a maioria das organizações jornalísticas progressistas estava preparada para fazer”. Outro tanto se passou com o site Gawker, fundado três anos antes.
“Há muita gente, inclusive trabalhando no reino digital, que viu ambas as empresas levar as fronteiras da divulgação em direcções indesejáveis. (...) As pessoas que são críticas ao Gawker tendem a ser as que mais são afectadas por seu jornalismo. Em relação ao Huffington Post, os críticos tendem a ser aqueles que são afectados por seu modelo de negócios.”
Neste ponto, “o Huffington Post tornou-se famoso por ser a plataforma que não pagava pelo trabalho daqueles que escreviam. Por outro lado, destacava o facto de que existia um número muito maior de pessoas dispostas a escrever por uma remuneração baixa ou nula para ‘aparecer’ num veículo global do que o número daquelas que exigiam pagamento”.
As consequências disto são deixadas em aberto por Emily Bell:
“Uma questão que actualmente se coloca para o jornalismo é reflectir sobre como sustentar um mercado de onde irão surgir os próximos Nick Dentons e Arianna Huffingtons. Peter Thiel praticamente fechou o Gawker e a AOL apoderou-se do Huffington Post. Todas as empresas jornalísticas, novas e velhas, estão repensando se conseguem subsistir como um serviço gratuito num mercado onde a publicidade desmoronou.” (...)
O texto traduzido e o original, em The Guardian, de onde colhemos a foto, assinada por Denis Balibouse / Reuters