A ética e a economia no futuro da informação
“Privados do seu papel de porteiros, os jornalistas e os meios de comunicação para os quais trabalham descobrem-se como nós e canais no interior de uma estrutura de informação em rede onde os novos actores digitais como a Google, o Facebook ou o Buzzfeed são provavelmente mais significativos do que a BBC, a CNN ou o New York Times.” (.../...)
“Vejam a presente crise de refugiados que se espalha pela Europa. É um enorme case study da oportunidade potencial e dos verdadeiros desafios que confrontam o jornalismo como indústria na era digital. Parece que uma fotografia de um menino morto numa praia actuou como ponto de viragem para a consciência, por parte das pessoas, deste muitíssimo importante, complexo e inquietante conjunto de temas. Através das redes sociais, essa imagem saltou para as mãos das pessoas, ao aparecer nos seus visores ligados e interactivos, no meio das suas vidas. Elas reagiram, nem que fosse só para pôr um like. Houve milhões que começaram campanhas com hashtags no twitter, apoiando os migrantes. Outros responderam zangados, explodindo de fúria digital perante a hipótese daquilo que vêem como ameaça ao seu estilo de vida. Que fazem os jornalistas profissionais no meio desta agitação?”
“Uma das respostas foi a de lançar aquela imagem e todas as outras histórias comoventes e perturbantes à cara dos leitores e espectadores. Jornais que, poucas semanas antes, chamavam a atenção para as consequências terríveis da imigração maciça, subitamente estavam a pedir compaixão. Jornalistas que tinham argumentado que o Ocidente devia manter-se à margem de uma intervenção nos conflitos que são a causa desta corrida na direcção das praias europeias estão agora a dizer que esta é, de facto, uma responsabilidade nossa.” (.../...)
“Ao fazerem isto, os jornalistas devem acrescentar um valor ético.
Em primeiro lugar, devem ir lá. A reportagem no terreno continua a ser vital. Ao mesmo tempo, devem ligar-se às inúmeras fontes online que rodeiam qualquer história, à medida que ela acontece. Devem ser capazes de fazer jornalismo assente em factos: dar uma informação real, de confiança, apresentada de modo acessível, que descreva os acontecimentos e as questões com rigor e proporção. Mas devem também ter empatia. A antiga ideia de um jornalismo imparcial, baseado nos factos e equilibrado, continua a ser inteiramente válida. Mas os jornalistas devem também compreender o elemento emocional. Devem ter empatia pelo assunto e pela resposta da sua audiência para comunicarem o interesse humano de qualquer história. Se o fizerem de modo transparente, que procura honestamente fazer um relato melhor, eles serão objecto de confiança. Devem ser suficientemente humildes para admitirem os seus êrros, e aceitar sempre que não sabem tudo. Se eles seguirem correctamente esta ética, as pessoas darão valor ao seu trabalho. Eles irão construir relações sustentáveis de confiança e relevância junto do público. É este o melhor modo de levar as pessoas a pagarem pelo seu trabalho.” (.../...)
Extractos do artigo “Ethics will be as central as economics to the future of the news industry”, de Charlie Beckett, publicado em Set.2015 aqui: