Apesar do Novo Ano, a maioria das preocupações sobre o futuro dos “media” continua a manter-se inalterada, segundo a redacção da “Press Gazette”.
Perante este cenário, a equipa decidiu entrevistar alguns editores de jornais proeminentes, de forma a apurar os factos que mais os inquietam.
No caso do editor-executivo do “Washington Post”, Martin Baron, o maior obstáculo para o jornalismo em 2021 será o combate à desinformação.
“As sociedades já não têm uma verdade comum. Já nem sequer conseguimos concordar sobre o que é um facto. Isto é um obstáculo para o jornalismo que, por norma, é o árbitro da factualidade”, disse Baron.
“A especialização, a experiência, a educação e as provas são, agora, reprovadas e negadas. Isto constitui, igualmente, um desafio para as democracias”, prosseguiu. “É difícil saber como actuar perante este cenário(...) Podemos ser mais transparentes, revelando mais sobre a nossa forma de trabalhar”.
“Mas será que isto funciona?”, interrogou-se. “Não posso dar certezas, mas posso permanecer optimista”.
A editora do “Financial Times”, por sua vez, considera que o maior desafio será assegurar o funcionamento da redacção em regime de teletrabalho.
“A equipa do ‘FT’ conta com solidariedade e o espírito de entreajuda, mas, igualmente, com inovação constante”, disse Roula Khalaf. “Estou confiante de que a nossa resiliência e flexibilidade irá permitir-nos progredir nas nossas prioridades estratégicas”.
Por outro lado, Greg William, responsável pelo “Wired UK”, afirma que a sua maior preocupação passa pela captação de audiências “online”.
“No meu ponto de vista, apesar de ser importante interagir com grandes audiências, é crucial que consigamos manter uma base de leitores leais, que estão investidos na nossa marca”.
Já Nicholas Carlson, responsável pelo “site” “Insider”, acredita que o maior obstáculo à prática do jornalismo será o poder político.
Esta mesma preocupação é partilhada por Richard Tofel, presidente da “ProPublica”, que deseja voltar a cobrir, nos EUA, “um governo normal, com políticas normais”.
Por fim, Mark Allen, presidente do Grupo Mark Allen, reitera que o presente ano será muito desafiante para a imprensa.
Allen destaca, contudo, duas notas positivas: o triunfo do jornalismo de qualidade e o interesse crescente dos jovens em informação fidedigna.
No Brasil, a maioria dos jornalistas que escreve sobre emigração foca-se, somente, nos aspectos positivos da mudança, omitindo as verdadeiras dificuldades de um expatriado, considerou Liliana Tinoco Backert num texto publicado no “Observatório da Imprensa”, associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria.
De acordo com a autora, este tipo de artigos passam a mensagem de que basta dominar uma língua estrangeira para se ser bem sucedido lá fora. Contudo, defende Tinoco Backert, a realidade nem sempre é essa.
Quando os jornalistas oferecem destaque a empresários de sucesso, esquecem-se, muitas vezes, das possíveis adversidades enfrentadas pela família desse mesmo profissional, que deixaram as suas rotinas para o acompanhar.
Da mesma forma, o jornalismo de migração brasileiro omite os choques interculturais, as dificuldades de adaptação e a possível exclusão social.
Perante este cenário, a autora incentiva os profissionais dos “media” a criarem projectos focados nestes temas, para informarem, eficazmente, os leitores que estão a ponderar mudar de país.
Aliás, Tinoco Backart -- que chegou a viver na Suíça -- começou a redigir, em 2016, a sua própria coluna sobre movimentos migratórios, que é publicada no portal Swissinfo.ch.
As redes sociais poderão estar a assumir a responsabilidade pela partilha compulsiva de informações falsas e de opiniões que são tomadas como factos, considerou o jornalista Lucas Souza Doutra num artigo publicado no “Observatório da Imprensa”, associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria.
O autor começa por recordar que o Novo Ano foi marcado por uma polémica na plataforma Twitter, que baniu a conta de Donald Trump. Esta medida foi justificada com os riscos de incitação à violência, afirmações falsas e violação de regras das plataformas.
Segundo indicou Dutra, é certo que a acção pode ter sido motivada por interesses económicos e políticos.
Mas, a curto prazo -- reiterou o autor -- este tipo de moderação pode ser eficaz no condicionamento das “fake news” e começar a traçar um melhor futuro para o ambiente virtual que, nos últimos anos, se tem caracterizado pela distorção e imposição de ideologias, estimulada pelo excesso de segmentação e de algoritmos.
O autor considera, por outro lado, que é urgente responder a algumas questões sobre a regulação do mundo “online”.
Ao completar 40 anos de actividade ininterrupta o CPI – Clube Português de Imprensa tem um histórico de que se orgulha. Foi a 17 de dezembro de 1980 que um grupo de entusiastas quis dar forma a um projecto inédito no associativismo do sector.
Não foi fácil pô-lo de pé, e muito menos foi cómodo mantê-lo até aos nossos dias, não obstante a cultura adversarial que prevalece neste País, sempre que surge algo de novo que escapa às modas em voga ou ao politicamente correcto.
O Clube cresceu, foi considerado de interesse público; inovou ao instituir os Prémios de Jornalismo, atribuídos durante mais de duas décadas; promoveu vários ciclos de jantares-debate, pelos quais passaram algumas das figuras gradas da vida nacional; editou a revista Cadernos de Imprensa; teve programas de debate, em formatos originais, na RTP; desenvolveu parcerias com o CNC- Centro Nacional de Cultura, Grémio Literário, e Lusa, além de outras, com associações congéneres estrangeiras prestigiadas, como a APM – Asociacion de la Prensa de Madrid e Observatório de Imprensa do Brasil.
A convite do CNC, o Clube juntou-se, ainda, à Europa Nostra para lançar, conjuntamente, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, instituído pela primeira vez em 2013, em, homenagem à jornalista, que respirava Cultura, cabendo-lhe o mérito de relançar o Centro e dinamizá-lo com uma energia criativa bem testemunhada por quem a acompanhou de perto.
Mais recentemente, o Clube lançou os Prémios de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o jornal A Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares, procurando preencher um vazio que há muito era notado.
Uma efeméride “redonda” como esta que celebramos é sempre pretexto para um balanço. A persistência teve as suas recompensas, embora, hoje, os jornalistas estejam mais preocupados com a sua subsistência num mercado de trabalho precário, do que em participarem activamente no associativismo do sector.
Sabemos que esta realidade não afecta apenas o CPI, mas a generalidade das associações, no quadro específico em que nos inserimos. Seriam razões suficientes para nos sentarmos todos à mesa, reunindo esforços para preparar o futuro.
Com este aniversário do CPI fica feito o convite.
A Direcção