A pandemia fez-se acompanhar de novos desafios para a profissão jornalística, uma vez que muitos governos utilizaram a crise sanitária como pretexto para condicionar a liberdade de imprensa.
Além disso, mesmo nos países em que o direito ao jornalismo independente é assegurado, os profissionais dos “media” passaram a ser alvo de desconfiança, devido à rápida disseminação de desinformação sobre a covid-19.
Perante este cenário, os Repórteres sem Fronteiras (RSF) partilharam um novo relatório, com dez medidas que os partidos políticos podem defender, como forma de proteger e apoiar o livre exercício do jornalismo.
Em primeiro lugar, os RSF defendem que os políticos deveriam lutar pela aprovação de uma nova lei, que garanta o direito à informação e proteja a democracia na era digital, adaptando as normas que regem a situação criada pelo novo cenário digital globalizado.
Neste sentido, a organização sugere que os governos pressionem as plataformas tecnológicas a regularem os conteúdos partilhados, dando prioridade à disseminação de notícias fidedignas.
Para os RSF, os políticos devem, ainda, assegurar a pluralidade mediática, combatendo os monopólios jornalísticos, e a concentração vertical.
Em quarto lugar, os RSF sublinham a importância de proibir o “tráfico de influências” na comunicação social, penalizando os proprietários e os directores que tentem condicionar a linha editorial das publicações.
Além disso, a mesma organização de defesa do jornalismo acredita que os governos devem reforçar a protecção do sigilo das fontes. As medidas de segurança deverão, ainda, estender-se aos profissionais que cobrem as manifestações sociais e que, por vezes, são alvo de violência física e verbal.
Em sétimo lugar, os RSF apelaram à implementação de medidas para travar “processos de silenciamento”.
Neste contexto, os RSF consideraram que seria essencial estabelecer um sistema para proteger o âmbito democrático das notícias, através da imposição de requisitos de honestidade, independência e pluralismo a publicações jornalísticas.
A nível económico, os Repórteres sem Fronteiras sugerem a criação de um “New Deal” para o jornalismo, destinando 0,1% do PIB anual para salvaguardar a função social dos “media”.
Por fim, os RSF consideram que todas estas medidas devem convergir para defender um dos elementos mais importantes para a saúde das democracias: a defesa da liberdade de imprensa e da informação de confiança.
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.