Com a democratização do acesso à internet e às informações disseminadas “online”, o consumo de notícias fidedignas deixou de ser suficiente para os cidadãos que querem manter-se a par da actualidade, afirmou Carlos Castilho num artigo publicado no “Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Agora, destacou o autor, as notícias deixaram de ser uma verdade absoluta e, por isso, devem ser, apenas, um ponto de partida para uma pesquisa mais aprofundada sobre um determinado tema.
Conforme apontou Castilho, isto acontece, sobretudo, porque uma mesma informação pode ter interpretações diferentes, dependendo do sector de actividade, ou dos interesses dos leitores de informação.
Ou seja, conforme exemplificou o articulista, uma notícia sobre a valorização do dólar pode ser considerada positiva para quem é exportador, uma catástrofe para quem depende da importação, ou uma arma político/eleitoral para um candidato presidencial.
Ora, esta é uma mudança de atitude que afecta, profundamente, a forma como a imprensa e o jornalismo autónomo abordam uma mesma notícia, disse Castilho.
Além disso, os jornalistas estão condicionados pelas suas próprias experiências e ideologias, por muito que tentem exercer as suas funções da forma mais objectiva possível.
E estas limitações humanas, continuou Castilho, não servem, de maneira satisfatória, os consumidores da era digital, que têm acesso a uma imensidão de diferentes perspectivas, com apenas um “click”.
Perante esta nova realidade, prosseguiu o autor, os jornalistas deverão assumir o papel de curadores, seleccionando os conteúdos de acordo com os interesses de diferentes públicos, para que todos os cidadãos tenham acesso a informações fidedignas, independentemente do seu contexto socioeconómico.
Por sua vez, os consumidores de notícias deverão modificar o seu posicionamento, e assumir uma conduta crítica.
Isto não significa, contudo, que os leitores devam ser cépticos quanto ao trabalho desenvolvido pelos profissionais dos “media”. Em vez disso, deverão procurar contextualizar a informação que consomem, e procurar respostas concretas, consoante as suas circunstâncias pessoais.
Castilho sublinha, neste contexto, que as empresas jornalísticas deverão afastar-se das agendas noticiosas pré-estabelecidas, já que a forma de interpretar a realidade está a alterar-se, caracterizando-se por uma maior pluralidade de perspectivas e contextos.
Leia o artigo original em “Observatório da Imprensa”
Os jornalistas devem manter-se fiéis aos valores de ética e deontologia, reconhecendo a importância do seu trabalho para a vida democrática, e lutando para melhorar as condições de trabalho no sector mediático, considerou Miguel Ormaetxea num texto publicado no “site” Media-Tics.
Conforme apontou Ormaetxea, o jornalismo em Espanha está a enfrentar um período difícil, uma vez que, de forma a conseguirem emprego, os profissionais dos “media” aceitam escrever peças de pouco interesse, limitando-se a partilhar informações superficiais “ad nauseam”.
Além disso, continuou o autor, os profissionais espanhóis parecem ir todos atrás das mesmas histórias, resultando em bancas de jornais repletas de “manchetes” semelhantes e, por vezes, contraditórias.
Perante este cenário, Ormaetxea pede aos jornalistas que contrariem o “status quo”, deixando de sucumbir às vontades de grandes empresários de “media”, que “só sabem demitir, cortar salários e despesas”.
Até porque, de acordo com o articulista, a sobrevivência do jornalismo depende do investimento em “ qualidade, em inovação, em novas tecnologias, e em talento''.
Neste sentido, Ormaetxea considera essencial que os jornalistas deixem, também, de aceitar as exigências do governo, que promovem conferências de imprensa sem a possibilidade de intervenção dos repórteres, o que representa um ataque à liberdade de imprensa.
Da mesma forma, o autor recorda que os profissionais dos “media” devem parar de arriscar a sua vida “em troca de uns tostões”, e de “peças mal amanhadas”.
A instabilidade política e social na Venezuela levou muitos jornalistas a radicaram-se em países vizinhos, como forma de garantir a sua segurança e subsistência financeira.
Foi esse o caso de Pierina Sora, uma jornalista de Caracas que, em 2018, se mudou para o Peru. No entanto, esta profissional continua a informar os cidadãos venezuelanos, lutando pela liberdade de imprensa, conforme explicou em entrevista ao “Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
De acordo com Sora, a Venezuela está, de momento, a “atravessar uma complexa crise humanitária”, que levou muitos outros cidadãos a seguirem o seu exemplo, e a mudarem-se para o Peru.
Foi perante este cenário que Sora decidiu criar o projecto “Cápsula Migrante”, um “site” lançado em Maio de 2020, no contexto da crise pandémica, com o objectivo de apoiar “a comunidade migrante”.
Este projecto serve, também, como alternativa aos cidadãos que continuam na Venezuela, e que têm dificuldade em aceder a jornalismo de qualidade, devido às restrições impostas pelo governo.
Tal como explicou Sora, as dificuldades na Venezuela verificam-se tanto a nível de ataques físicos aos colaboradores dos “media”, como na restrição do acesso ao papel para imprimir jornais, e, ainda, no bloqueio da internet.
Assim, o “Cápsula Migrante”, juntamente com outros projectos de jornalismo local e hiperlocal, tem tentado “dedicar-se às comunidades”, dando-lhes poder através da “informação de qualidade”.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.