Com a era digital e o aparecimento das redes sociais, os “media” tiveram que adaptar o seu “modus operandi”, de forma a criar conteúdos atractivos para as camadas mais jovens da sociedade.
No entanto, segundo notou Denise Becker num artigo publicado no “Observatório da Imprensa” -- associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria -- este tem sido um processo complicado para muitos títulos, que ainda não compreendem o funcionamento destas novas plataformas.
Becker nota, neste sentido, que a maioria dos jornalistas continua a basear-se nos princípios tradicionais da profissão, em que a informação e os factos são as prioridades.
Por outro lado, os utilizadores das redes sociais demonstram-se cada vez mais exigentes, procurando consumir notícias que os entretenham e que vão ao encontro dos seus interesses pessoais.
Ainda assim, alguns especialistas consideram que os editores não devem focar toda a sua atenção na produção de vídeos para redes sociais como o TikTok ou o Snapchat.
A título de exemplo, Samuel Lima, da revista “objETHOS”, sublinha que o sucesso dos “media” nas redes sociais é algo ilusório, controlado por um algoritmo.
Por outro lado, o professor Nicholas Diakopoulos diz que os obstáculos ao progresso e inovação nas organizações de notícias resultam de processos culturais, em parte porque o jornalismo não veio de uma cultura de “design” centrada nos valores das pessoas.
Segundo este especialista, o jornalismo é muito parecido com a Ciência da Computação, porque ambas as áreas se preocupam com a informação.
Contudo, Diakopoulos defende que os “media” devem ter a capacidade de alinhar as duas áreas, com uma equipa focada na redacção de artigos e com outra responsável pelo desenvolvimento de “softwares” e análise de dados de consumo.
Becker ressalva, da mesma forma, que outro factor a ser considerado refere-se à sofisticação computacional muito desigual nas redações.
Isto porque, enquanto alguns títulos têm equipas multifuncionais bem estruturadas, compostas por jornalistas e especialistas em tecnologia, outros ainda têm dificuldade em analisar bases de dados ou desenvolver conteúdos para formatos específicos, como os vídeos do TikTok.
Posto isto, a autora considera essencial reflectir sobre o actual programa leccionado em faculdades de jornalismo, para que os novos profissionais tenham a capacidade de enfrentar os desafios desta nova era.
Com a introdução de uma nova estratégia, acredita Becker, haveria muitas oportunidades no uso da tecnologia para que o jornalismo melhorasse os seus processos, disseminasse informações verdadeiras e alcançasse mais cidadãos.
“Para isso, um bom começo seria desenvolver um senso de comunidade e colaboração entre jornalistas, academia e outras áreas de conhecimento”, concluiu.
Leia o artigo original em "Observatório da Imprensa"
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.