O relatório anual da organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras descreve “uma degradação profunda e preocupante da liberdade da Imprensa no mundo”. O índice utilizado, desde 2013, na sua Classificação Mundial da Liberdade da Imprensa, subiu de 3.719 pontos, no ano passado, para 3.857 neste ano, o que significa um agravamento de 3,71% (ou de 13,6% em relação a 2013).
Portugal aparece em 23º lugar, enquanto surge a Namíbia surge logo a seguir, em 24º, à frente de países como a Espanha, França, Reino Unido e Estados Unidos.
A apresentação destes dados aponta como razões principais uma “deriva liberticida dos governos, como na Turquia ou no Egipto, uma tomada de controlo dos media públicos, mesmo na Europa (na Polónia, por exemplo), e situações de segurança cada vez mais tensas, na Líbia e no Burundi, ou claramente catastróficas, como no Iémen.”
O texto introdutório diz ainda:
“Face às ideologias, nomeadamente religiosas, hostis à liberdade de informação, e aos grandes aparelhos de propaganda, a situação da informação independente é cada vez mais precária, tanto no sector público como no privado.” (...) “Alguns Estados não hesitam em suspender o acesso à Internet, quando não destroem, pura e simplesmente, as sedes, as antenas ou as impressoras dos media que os incomodam. Entre 2013 e 2016, verifica-se uma queda de 16% neste indicador.”
Também no quadro legal a situação tem piorado para os jornalistas, perseguidos por “insultos ao presidente”, por “blasfémia” ou “apoio ao terrorismo”. Como efeito secundário desta ameaça permanente, “os jornalistas têm uma tendência cada vez mais acentuada para a auto-censura”.
Na classificação por países, que faz uma lista de 180, por ordem decrescente de situação favorável, os primeiros quatro lugares são ocupados por países do Norte da Europa (Finlândia, Holanda, Noruega e Dinamarca), seguindo-se a Nova Zelândia e a Costa Rica, e logo depois Suíça, Suécia, Irlanda e Jamaica.
A Venezuela não ia além dos 137º lugar no ranking , posição que terá perdido de então para cá, à medida que Maduro tem reforçado o controlo ou o silenciamento dos principais meios de comunicação não oficiais.
Portugal aparece em 23º lugar, a Espanha em 34º, o Reino Unido em 38º e os Estados Unidos em 41º. Há um capítulo final que explica detalhadamente a metodologia utilizada para chegar a esta classificação, verificando-se que a Eritreia e a Coreia do Norte ocupam o final da lista.
No capítulo denominado Análises é feita uma leitura comparada entre várias grandes regiões mundiais, onde se descrevem, por exemplo, as situações no Médio Oriente – África do Norte, com os jornalistas constrangidos “entre o terrorismo e os abusos da luta anti-terrorista”.
A Europa é apresentada como estando “ameaçada pelos seus demónios e pelos do mundo”:
“A tendência que se esboçava na Europa, aquando da classificação de 2015, a saber, a de uma erosão do modelo, tende a confirmar-se em 2016: desvios da contra-espionagem e da luta contra o terrorismo, adopção de leis permitindo uma vigilância de grande escala, aumento dos conflitos de interesse, intervenção cada vez maior das autoridades sobre os meios públicos e por vezes os privados - o continente onde a liberdade da Imprensa é, em média, a maior, não se destaca por uma trajectória positiva.”
A classificação divulgada no site dos Repórteres sem Fronteiras
Em Outubro de 2017, a jornalista Daphne Caruana Galizia, que investigava as ligações políticas perigosas da corrupção na ilha de Malta, foi morta num atentado à bomba. Hoje, uma equipa de 45 jornalistas, de 18 órgãos de comunicação de todo o mundo, está a trabalhar no Projecto Daphne, uma série de artigos que possam completar a sua investigação. Este projecto inscreve-se na missão de Forbidden Stories, cujo fundador, o realizador francês Laurent Richard, reafirmou em artigo recente em The Guardian: “Vocês mataram o mesageiro, mas não conseguirão matar a mensagem.”
O combate à desinformação online tornou-se o tema incontornável de todos os encontros de jornalistas. Mas um dos painéis realizados na mais recente edição do Festival Internacional de Jornalismo, em Perugia, Itália, escutou intervenções que sugerem uma atitude menos confrontacional. A ideia é que resulta melhor investir num jornalismo de investigação no terreno, mesmo que tome mais tempo, do que tentar a batalha sempre perdida de aguentar o ritmo de produção das grandes máquinas de propaganda. Falaram neste sentido vozes experimentadas, de jornalistas como Galina Timchenko, russa, fundadora e directora do website Meduza, e Natalia Anteleva, georgiana, co-fundadora e editora de Coda Story.
Este site do Clube Português de Imprensa nasceu em Novembro de 2015. Poderia ter sido lançado, como outros congéneres, apenas com o objectivo de ser um espaço informativo sobre as actividades prosseguidas pelo Clube e uma memória permanente do seu histórico de quase meio século . Mas foi mais ambicioso.
Nestes dois anos decorridos quisemos ser, também, um espaço de reflexão sobre as questões mais prementes que se colocam hoje aos jornalistas e às empresas jornalísticas, perante a mudança de paradigma, com efeitos dramáticos em não poucos casos.
Os trabalhos inseridos e arquivados neste site constituem já um acervo invulgar , até pela estranha desatenção com que os media generalistas seguem o fenómeno, que está a afectá-los gravemente e do qual serão, afinal, as primeiras vítimas.