A Fundação Calouste Gulbenkian voltou a acolher a cerimónia de entrega doPrémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, atribuído, este ano, ao Cardeal José Tolentino Mendonça.
A cerimónia foi, pela primeira vez, transmitida em “lifestream”.
Este prémio europeu, instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura (CNC) em cooperação com a Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa (CPI) recorda a jornalista, escritora, activista cultural e política portuguesa, Helena Vaz da Silva, bem como a sua contribuição para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus.
É atribuído, anualmente, a um cidadão europeu, cuja acção se destaca pela salvaguarda do património cultural, entendido no seu sentido mais amplo.
Tolentino de Mendonça é escritor, poeta, dramaturgo e professor tendo, ainda, a seu cargo, a Biblioteca e Arquivo Apostólicos da Santa Sé.
Reconhecido pela sua “capacidade de divulgar a Beleza e a Poesia como parte do património cultural intangível da Europa e do Mundo”, José Tolentino Mendonça agradeceu o prémio, afirmando ser “uma obra dos outros”.
Na sua intervenção, Tolentino Mendonça referiu que “os livros fizeram a Europa, construíram e constroem a humanidade”, e que “quer como artefactos, quer como transmissores de uma conceptualidade moral da vida, (...) deixaram de representar (...) o principal foco de energia na nossa civilização”.
“Protejamos o património cultural que os livros representam. Eles são mapas para decifrar de onde viemos, mas são também telescópios e sondas apontadas ao futuro”, referiu.
O cardeal ressalvou, também, que “o facto de este prémio ter o nome de Helena Vaz da Silva, constitui”, para si, “um motivo de alegria e, certamente, uma responsabilidade acrescida”.
Na atribuição do prémio, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que participou através de uma mensagem de vídeo, reiterou que “o que mais impressiona em Tolentino Mendonça é a conjugação das facetas no homem de fé, do homem de cultura, e do homem de moralidade humana”.
“É alguém que faz com que a cultura transponha fronteiras e universos e inspire quem o ouve e lê, independentemente do grau de instrução que possui ou das convicções que defende”.
Isabel Mota, anfitriã da cerimónia, na qualidade de presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, descreveu, por sua vez, José Tolentino Mendonça como um “poeta consagrado, um homem de cultura, que tem sabido conjugar o percurso académico e intelectual de excelência, com um lado mais comunitário, mais virado para a cidadania”.
“ A sua nomeação para a direcção para a Biblioteca e Arquivo do Vaticano -- continuou -- constitui um reconhecimento das suas faculdades que, em boa hora, foram colocadas ao serviço de um dos mais importantes acervos patrimoniais do Mundo”.
Já Maria Calado, presidente do Centro Nacional de Cultura, e presidente do Júri do Prémio, referiu o laureado como um “cidadão com um perfil muito especial, autor de uma obra cultural e cívica ímpar, que congregou a unanimidade de decisão do júri”.
Na sua intervenção, o presidente do Clube Português de Imprensa, Dinis de Abreu, salientou o trabalho de D. José Tolentino, “no jornal onde publica crónicas de uma repassada interioridade, ou em formato de livro, quando liberta o poeta e ensaísta que nele coabitam com a fé”, como um “singular despojamento que nos toca pela sua humanidade, um roteiro de palavras semeando o futuro”. (ler texto noutro local)
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, esteve, também, presente, citando o cardeal como um “herdeiro consciente e assumido das tradições culturais e das disciplinas artísticas que configuram a cultura europeia”, que exerce um “ofício cantante”.
A secretária-geral da Europa Nostra, Sneška Quaedvlieg-Mihailovi? participou na cerimónia via “zoom”, para “celebrar um grande homem de cultura e espírito humano e um grande europeu de Portugal”.
“O trabalho de José Tolentino Mendonça relembra-nos que, para sermos mais pacíficos, humanos, inclusivos e justos, a nossa sociedade tem que dar mais importância à poesia, aos valores, à palavra escrita”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ausente da cerimónia, por incompatibilidade de agenda, enviou uma mensagem de vídeo, na qual apontou José Tolentino Mendonça como “património cultural imaterial português”.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva conta, também, com o apoio do Ministério da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.
A jornalista portuguesa Catarina Canelas recebeu o Prémio Rei de Espanha na Categoria de Ambiente, graças à reportagem "Plástico: o Novo Continente".
Atribuída por unanimidade do júri, a distinção sublinha as “imagens impactantes que reflectem um enorme problema global e a invasão dos plásticos nos mares”.
Graças a estes elementos visuais, a reportagem conseguiu destacar-se entre as 155 candidaturas submetidas por mais de duas dezenas de países ibero-americanos.
Composta por sete episódios e exibida, pela TVI, em Agosto do último ano, a série documental foi realizada em conjunto com João Franco, Nélson Costa e Teresa Almeida, resultando num trabalho que, “documenta de forma extensa, (..) os perigos que pressupõem a presença do plástico no oceano”.
Esta reportagem contou, ainda, com a “opinião de especialistas, investigadores, cientistas, organizações conservacionistas e ecologistas que trabalham também na luta contra o plástico”.
A jornalista afirmou, entretanto, através das redes sociais que,“este reconhecimento de uma distinção tão importante a nível internacional é uma honra e um orgulho imenso”.
A série de reportagens está disponível no TVI Player.
Nos últimos anos, temos assistido à alteração dos modelos de negócio dos “media”, já que os consumidores de notícias têm demonstrado um crescente interesse pela leitura de jornais digitais, em detrimento do formato em papel.
Com isto, um pouco por todo o mundo, os editores de jornais começaram a reformular a sua estratégia financeira, focando-se na criação de modelos de subscrição. Desta forma, algumas publicações têm conseguido registar um crescimento nas suas receitas, mesmo com a diminuição do investimento publicitário.
Contudo, nem todos os jornais são bem sucedidos nesta transição digital, já que a maioria dos cidadãos ainda se mostra relutante em pagar pelo acesso à informação.
Perante este cenário, o jornalista Eduardo Suárez listou algumas ferramentas essenciais para que um negócio de “media” seja bem-sucedido na era digital, e compilou as dicas num artigo publicado nos “Cuadernos de Periodistas”, editados pela APM, associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Neste sentido, Suárez começa por explicar os factores que impulsionaram a crescente adesão a este tipo de modelo de negócio.
Em primeiro lugar -- recordou o autor -- o acesso à internet é cada vez mais amplo.
Em segundo lugar, as novas gerações valorizam o acesso a plataformas de serviços, deixando de lado os formatos físicos. Ou seja, os jovens preferem, por exemplo, ter uma conta na Netflix a uma colecção de DVDs.
Em terceiro lugar, as “paywalls” permitem avaliar o comportamento de consumo dos leitores, o que ajuda os jornais a adaptarem-se às necessidades e interesses do público em geral.
Posto isto, Suárez argumenta que, de forma a adaptarem-se a este modelo, os jornais devem começar por redefinir a sua estratégia e processos internos.
Ao completar 40 anos de actividade ininterrupta o CPI – Clube Português de Imprensa tem um histórico de que se orgulha. Foi a 17 de dezembro de 1980 que um grupo de entusiastas quis dar forma a um projecto inédito no associativismo do sector.
Não foi fácil pô-lo de pé, e muito menos foi cómodo mantê-lo até aos nossos dias, não obstante a cultura adversarial que prevalece neste País, sempre que surge algo de novo que escapa às modas em voga ou ao politicamente correcto.
O Clube cresceu, foi considerado de interesse público; inovou ao instituir os Prémios de Jornalismo, atribuídos durante mais de duas décadas; promoveu vários ciclos de jantares-debate, pelos quais passaram algumas das figuras gradas da vida nacional; editou a revista Cadernos de Imprensa; teve programas de debate, em formatos originais, na RTP; desenvolveu parcerias com o CNC- Centro Nacional de Cultura, Grémio Literário, e Lusa, além de outras, com associações congéneres estrangeiras prestigiadas, como a APM – Asociacion de la Prensa de Madrid e Observatório de Imprensa do Brasil.
A convite do CNC, o Clube juntou-se, ainda, à Europa Nostra para lançar, conjuntamente, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, instituído pela primeira vez em 2013, em, homenagem à jornalista, que respirava Cultura, cabendo-lhe o mérito de relançar o Centro e dinamizá-lo com uma energia criativa bem testemunhada por quem a acompanhou de perto.
Mais recentemente, o Clube lançou os Prémios de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o jornal A Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares, procurando preencher um vazio que há muito era notado.
Uma efeméride “redonda” como esta que celebramos é sempre pretexto para um balanço. A persistência teve as suas recompensas, embora, hoje, os jornalistas estejam mais preocupados com a sua subsistência num mercado de trabalho precário, do que em participarem activamente no associativismo do sector.
Sabemos que esta realidade não afecta apenas o CPI, mas a generalidade das associações, no quadro específico em que nos inserimos. Seriam razões suficientes para nos sentarmos todos à mesa, reunindo esforços para preparar o futuro.
Com este aniversário do CPI fica feito o convite.
A Direcção