A pandemia de covid-19 fez com que os cidadãos voltassem a interessar-se pelo consumo de informação, como forma de se manterem actualizados e seguros.
O jornalismo assumiu-se, assim, como um dos principais responsáveis pela saúde pública, desmentindo notícias falsas, e aconselhando os consumidores segundo as directivas das autoridades.
Todos os “media” registaram um crescimento exponencial na sua audiência, mas foram os operadores públicos que conquistaram a confiança generalizada da população, recordou Rafael Díaz Arias num texto publicado nos “Cuadernos de Periodistas”, editados pela APM -- associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Iniciou-se, assim, uma aceleração do digitalização dos operadores públicos, um processo que é, só por si, complexo e moroso. Contudo, em Espanha, a transição multiplataforma confronta-se, ainda, com assuntos pendentes: garantir a independência dos operadores públicos, bem como a sua administração democrática, o que depende do consenso social e político.
Para clarificar esta problemática, o autor distinguiu o serviço prestado pelos jornalistas de empresas privados e pelos de empresas públicas.
Só por si, o jornalismo deve ser considerado um serviço público, já que tem a função de informar a população, de forma desinteressada. Este serviço pode ser prestado por empresas privadas ou por empresas reguladas pelo Estado (empresas públicas).
Enquanto as empresas privadas podem fechar, por falta de receitas, o funcionamento das empresas públicas deverá ser garantido pelo Estado, zelando, sempre, pelo direitos fundamentais da democracia. Existe serviço público em muitos países, mas os europeus destacam-se pela sua qualidade, pluralidade e isenção.
Tendo em conta a sua missão, estes operadores têm tentado acompanhar a evolução dos tempos, desenvolvendo processos de transição digital.
A transição não tem sido fácil e não está concluída em nenhum país,. Em primeiro lugar, tem sido “uma navegação num mar tempestuoso”; sem um plano claro.
Do ponto de vista regulamentar, os novos serviços têm de ultrapassar um teste de valor acrescentado público, ou seja, mostrar que satisfazem, realmente, novas necessidades sociais, não cobertas pelo mercado.
Neste âmbito, é essencial reconquistar o público mais jovem: atender às suas necessidades, preocupações, gostos e adaptar-se aos seus hábitos de consumo, utilizando as suas redes e plataformas, mas inovando na linguagem e elevando a qualidade dos conteúdos.
Porém, o processo em Espanha tem sido diferente, porque a independência democrática do serviço público é, ainda, uma questão pendente.
O operador público é instrumentalizado pelos partidos e não existe uma entidade reguladora independente e especializada.
De acordo com o autor, todos os governos põem a RTVE ao serviço das suas estratégias, fazendo do serviço audiovisual público uma arma na luta partidária.
Entre reformas e contrarreformas das leis audiovisuais, foi-se acentuando a dependência institucional da RTVE, o que agudizou a polarização política e os cortes económicos, a degradação da credibilidade da informação, as audiências e a capacidade produtiva.
Por falta de consenso parlamentar quanto à presidência da televisão pública espanhola, o Governo acabou por nomear Rosa María Mateo como administradora única provisória, uma posição que concentra os poderes do presidente com os do Conselho de Administração.
Está, agora, um concurso público a decorrer, a fim de encontrar um novo administrador.
Perante este quadro, o autor considera essencial que se proceda a uma regeneração do serviço audiovisual público espanhol.
Tomando por base a opinião de especialistas em “media”, Arias reitera que seria importante reconstruir a RTVE, enquanto serviço independente e multiplataforma.
A médio prazo, é essencial repensar a direcção. O Conselho de Administração deve ser a manifestação do pluralismo social e dos grupos de interesse ,que convergem no serviço público, Da mesma forma, os poderes executivos devem ser transferidos para um director-geral, escolhido pelo Conselho de Administração com base no mérito e responsável perante este.
O autor defende, ainda, a criação de uma autoridade reguladora independente e especializada, que garanta a transparência e pluralidade dos serviços audiovisuais.
Além disso, a cultura política tem de sofrer reformas. Caso contrário, o serviço público de rádio e televisão continuará a proceder segundo os interesses governamentais.
Leia o artigo original em “Cuadernos de Periodistas”
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.