A inteligência artificial é, agora, parte do mundo dos “media”. Esta tecnologia tem a capacidade de redigir peças mais simples, realizar “fact-checking” e enviar “newsletters” a jornalistas, com os temas mais importantes do dia.
Contudo, estas máquinas não substituem o trabalho humano, já que são propensas a repetições e incapazes de tomar decisões éticas, reiteraram Bill Adair and Mark Stencel -- directores do Projecto de Jornalismo na Universidade de Duke -- num artigo publicado no “Nieman Lab”.
Adair e Stencel têm estado à frente de projectos de automatização jornalística e são os primeiros a admitir que a inteligência humana é essencial para que uma peça seja publicada sem erros e segundo as regras deontológicas.
Ao longo dos anos, estes profissionais desenvolveram ferramentas revolucionárias para o sector, como o Tech & Check Alerts, “e-mails” com declarações de figuras políticas, que ajudam os jornalistas a verificar factos.
No entanto, Adair e Stencel repararam que a adesão a este serviço começou a diminuir. Isto porque os “e-mails” continham demasiados factos repetidos, com informação redundante.
Assim, os responsáveis consideraram que a sua plataforma precisava de um “toque humano”.
Contrataram, então, um aluno de jornalismo, que ficou incumbido de seleccionar as alegações “mais promissoras”, filtrando as repetições não detectadas pelo “robot”.
Aliaram a automatização ao trabalho personalizado e chamaram-lhe “Best of the bot” (adaptação de “best of the both” ou “melhor dos dois mundos”, em português).
O primeiro “Best of The Bot” foi enviado em Setembro de 2019, com informações sobre o registo de imigração da administração Obama, que a campanha de Joe Biden publicou, no Twitter, durante um debate presidencial democrata.
Os jornalistas da “PolitiFact” analisaram o documento e classificaram-no como "meio verdadeiro".
Estes alertas são, agora, enviados a mais de duas dúzias de jornalistas, em oito projectos de verificação de factos, nos EUA.
Assim, os autores consideram que o futuro do jornalismo e do “fact-checking” depende de uma aliança entre tecnologia e inteligência humana.
Isto porque, por um lado, as máquinas realizam um trabalho mais rápido, permitindo que os alertas sejam publicados com uma periodicidade diária. Por outro, estes “e-mails” não seriam tão relevantes sem o trabalho de um jornalista especializado, que personaliza a informação, consoante o que considera mais ou menos pertinente.
Leia o artigo original em “Nieman Lab”
Os jornalistas devem manter-se fiéis aos valores de ética e deontologia, reconhecendo a importância do seu trabalho para a vida democrática, e lutando para melhorar as condições de trabalho no sector mediático, considerou Miguel Ormaetxea num texto publicado no “site” Media-Tics.
Conforme apontou Ormaetxea, o jornalismo em Espanha está a enfrentar um período difícil, uma vez que, de forma a conseguirem emprego, os profissionais dos “media” aceitam escrever peças de pouco interesse, limitando-se a partilhar informações superficiais “ad nauseam”.
Além disso, continuou o autor, os profissionais espanhóis parecem ir todos atrás das mesmas histórias, resultando em bancas de jornais repletas de “manchetes” semelhantes e, por vezes, contraditórias.
Perante este cenário, Ormaetxea pede aos jornalistas que contrariem o “status quo”, deixando de sucumbir às vontades de grandes empresários de “media”, que “só sabem demitir, cortar salários e despesas”.
Até porque, de acordo com o articulista, a sobrevivência do jornalismo depende do investimento em “ qualidade, em inovação, em novas tecnologias, e em talento''.
Neste sentido, Ormaetxea considera essencial que os jornalistas deixem, também, de aceitar as exigências do governo, que promovem conferências de imprensa sem a possibilidade de intervenção dos repórteres, o que representa um ataque à liberdade de imprensa.
Da mesma forma, o autor recorda que os profissionais dos “media” devem parar de arriscar a sua vida “em troca de uns tostões”, e de “peças mal amanhadas”.
A instabilidade política e social na Venezuela levou muitos jornalistas a radicaram-se em países vizinhos, como forma de garantir a sua segurança e subsistência financeira.
Foi esse o caso de Pierina Sora, uma jornalista de Caracas que, em 2018, se mudou para o Peru. No entanto, esta profissional continua a informar os cidadãos venezuelanos, lutando pela liberdade de imprensa, conforme explicou em entrevista ao “Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
De acordo com Sora, a Venezuela está, de momento, a “atravessar uma complexa crise humanitária”, que levou muitos outros cidadãos a seguirem o seu exemplo, e a mudarem-se para o Peru.
Foi perante este cenário que Sora decidiu criar o projecto “Cápsula Migrante”, um “site” lançado em Maio de 2020, no contexto da crise pandémica, com o objectivo de apoiar “a comunidade migrante”.
Este projecto serve, também, como alternativa aos cidadãos que continuam na Venezuela, e que têm dificuldade em aceder a jornalismo de qualidade, devido às restrições impostas pelo governo.
Tal como explicou Sora, as dificuldades na Venezuela verificam-se tanto a nível de ataques físicos aos colaboradores dos “media”, como na restrição do acesso ao papel para imprimir jornais, e, ainda, no bloqueio da internet.
Assim, o “Cápsula Migrante”, juntamente com outros projectos de jornalismo local e hiperlocal, tem tentado “dedicar-se às comunidades”, dando-lhes poder através da “informação de qualidade”.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.