A imprensa portuguesa está a ressentir-se do impacto económico do coronavírus. O principal modelo de negócio seguido -- que assentava, sobretudo, nas receitas publicitárias -- ficou comprometido, e os “media” estão a ser forçados a adaptarem-se, rapidamente, ao novo panorama.
O Obercom tem seguido, de perto, a realidade mediática portuguesa, dedicando alguns relatórios ao acompanhamento do impacto da crise pandémica no ecossistema português.
No seu mais recente estudo, -- a segunda versão do relatório do “Impacto da crise pandémica no sistema de media português e global” -- o Obercom debruçou-se sobre a análise das principais tendências, bem como das dinâmicas de evolução do sector.
De acordo com o relatório, continuam a verificar-se as tendências registadas na sua primeira versão. Estamos, assim, a assistir a uma aceleração exponencial das mudanças estruturais, bem como à alteração do consumo mediático. Da mesma forma, o jornalismo está a atravessar uma crise laboral.
Além disso, verifica-se a consolidação do poder das plataformas no sistema mediático global, assim como a alteração de paradigmas da sociabilidade, o que gera incerteza na definição de políticas económicas a nível nacional e / ou comunitário.
Há, porém, dados animadores. De acordo com um relatório da consultora Accenture, as organizações mediáticas estão a responder, rápida e eficazmente, ao impacto económico e social da pandemia.
Segundo o mesmo estudo, esta é uma boa altura para apostar na diversificação de conteúdos e na alteração do modelo de negócio, já que há um interesse crescente pelo consumo de informação.
O mais importante, afirma a consultora, será abraçar a oportunidade única de desenvolver relações de confiança e intimidade com os consumidores, que procuram manter-se informados, entretidos e conectados.
Para tal, será importante ter em conta as tendências de consumo por faixa etária, bem como as preferências a nível informativo.
Um relatório de Abril, produzido pelo “NiemanLab”, demonstra que o consumo de notícias “online” assistiu, em Março, a um pico que não está a ser acompanhado no mês de Abril. Isto porque o interesse por artigos sobre o coronavírus decresceu.
Assim, terão mais sucesso as plataformas que conseguirem contrabalançar conteúdos sobre o coronavírus com outros temas, que despertem o interesse do público.
O relatório recorda, igualmente, que, apesar de os “media” estarem a registar um tráfego excepcional, a queda das receitas publicitárias provocou cortes no orçamento das empresas.
Assim, àmedida que as semanas passam, e à medida que a solvabilidade financeira dos diferentes Grupos é posta em causa, inúmeras marcas têm vindo a comunicar aos seus colaboradores a intenção de reduzir das equipas de trabalho.
Neste contexto, o estudo Influencer Marketing Hub mostra que, das 237 marcas inquiridas, 38% consideram provável que um número considerável de colaboradores passe ao regime do “lay off”.
Segundo os autores, a estatística takvez mais preocupante seja a de que o “lay off” passe a ser encarada como uma medida indispensável, face à agudização económica provocada pelo coronavírus.
Em todo o caso, o facto de essas propostas serem casos isolados e não a regra para o sector da imprensa, está a retardar a criação de uma mentalidade digital entre os consumidores, e, portanto, a afectar a sustentabilidade do ecossistema noticioso.
Adicionalmente, uma das ideias que tem começado a surgir é a de que, no seguimento da racionalização dos recursos e da contenção de custos, a automatização poderá começar a ganhar terreno, substituindo trabalhadores.
O sector televisivo, por seu turno, está, ainda, “em alta”. Esta tendência, pode, contudo, vir a ser alterada, já que as plataformas de “streaming” oferecem conteúdos programas de entretenimento mais diversificados, pelo que as “grelhas” televisivas poderão vir a tornar-se obsoletas.
Por outro lado, a rádio, apesar do choque inicial, estará a registar menos perdas quando, comparada com a televisão ou a imprensa.
A criatividade registada, durante os últimos anos, no sector, coincidente com uma procura incessante de novas formas de monetizar o mercado áudio, poderá ser, efectivamente, uma mais-valia no médio / longo prazo.
Em Portugal, têm surgido parcerias proveitosas, como a estabelecida entre o Grupo Renascença Multimédia e o Portal Sapo, como forma de valorizar o património produtivo do Grupo Renascença, ao nível da informação, e de garantir à marca histórica nativa digital a disponibilidade de conteúdos informativos com o selo de qualidade histórico da marca radiofónica.
Outros projectos mais dispersos, alguns beneficiários de novas formas de distribuição de conteúdos, permitem que a rádio se incorpore no mundo digital de forma bastante directa e eficaz, usufruindo de estruturas de distribuição massificadas e muito eficientes.
Leia o relatório original em Obercom
Os directores de informação de todos os principais “media” nacionais subscreveram um documento conjunto, em que criticaram a vigilância policial exercida sobre jornalistas.
Num documento onde se invocaram os artigos da Constituição que protegem a Liberdade de Imprensa, assim como as leis que a tutelam e o Estatuto do Jornalista, os responsáveis editoriais insurgiram-se contra o comportamento de magistrados do Ministério Público, que não passou pelo crivo de qualquer magistrado judicial.
O documento foi enviado ao Presidente da República, presidente da Assembleia da República, assim como aos presidentes da 1ª Comissão da AR e aos diferentes Grupos Parlamentares, presidentes do Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal de Justiça e Conselho Superior da Magistratura, além da Procuradora-Geral da República, Provedora de Justiça e Bastonário da Ordem dos Advogados.
O texto integral subscrito pelos directores de informação é do seguinte teor:
O dia da tomada de posse é considerado um dos maiores eventos mediáticos nos Estados Unidos. Por esta ocasião, correspondentes de todos os cantos do país viajam para Washington D. C para captarem a primeira fotografia oficial no novo Presidente e relatarem os passos da cerimónia.
O Instituto Poynter ressalvou, contudo, que, este ano, alguns “media” norte-americanos desviaram as atenções de Joe Biden para se focarem na primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente: Kamala Harris.
Assim, muitos jornais regionais quiseram certificar-se de que tanto Biden, como Harris, tinham fotografias na primeira página.
O jornal local “San Francisco Chronicle”, por exemplo, deu destaque a Harris e ao segundo cavalheiro, Douglas Emhoff, ao colocar uma foto de ambos no topo da capa.
O mesmo aconteceu com os jornais do Grupo Hearst, no Estado do Connecticut.
De acordo com Wendy Metcalfe, responsável pela empresa de “media”, esta escolha foi feita para reflectir “o sentimento da comunidade”.
O “Tampa Bay Times”, por sua vez, dedicou toda a primeira página à presidência Biden/Harris.
Ao completar 40 anos de actividade ininterrupta o CPI – Clube Português de Imprensa tem um histórico de que se orgulha. Foi a 17 de dezembro de 1980 que um grupo de entusiastas quis dar forma a um projecto inédito no associativismo do sector.
Não foi fácil pô-lo de pé, e muito menos foi cómodo mantê-lo até aos nossos dias, não obstante a cultura adversarial que prevalece neste País, sempre que surge algo de novo que escapa às modas em voga ou ao politicamente correcto.
O Clube cresceu, foi considerado de interesse público; inovou ao instituir os Prémios de Jornalismo, atribuídos durante mais de duas décadas; promoveu vários ciclos de jantares-debate, pelos quais passaram algumas das figuras gradas da vida nacional; editou a revista Cadernos de Imprensa; teve programas de debate, em formatos originais, na RTP; desenvolveu parcerias com o CNC- Centro Nacional de Cultura, Grémio Literário, e Lusa, além de outras, com associações congéneres estrangeiras prestigiadas, como a APM – Asociacion de la Prensa de Madrid e Observatório de Imprensa do Brasil.
A convite do CNC, o Clube juntou-se, ainda, à Europa Nostra para lançar, conjuntamente, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, instituído pela primeira vez em 2013, em, homenagem à jornalista, que respirava Cultura, cabendo-lhe o mérito de relançar o Centro e dinamizá-lo com uma energia criativa bem testemunhada por quem a acompanhou de perto.
Mais recentemente, o Clube lançou os Prémios de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o jornal A Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares, procurando preencher um vazio que há muito era notado.
Uma efeméride “redonda” como esta que celebramos é sempre pretexto para um balanço. A persistência teve as suas recompensas, embora, hoje, os jornalistas estejam mais preocupados com a sua subsistência num mercado de trabalho precário, do que em participarem activamente no associativismo do sector.
Sabemos que esta realidade não afecta apenas o CPI, mas a generalidade das associações, no quadro específico em que nos inserimos. Seriam razões suficientes para nos sentarmos todos à mesa, reunindo esforços para preparar o futuro.
Com este aniversário do CPI fica feito o convite.
A Direcção