A cerimónia de entrega de prémios do World Press Photo foi cancelada, devido à pandemia de Covid-19, mas, a organização não deixou de dar a conhecer ao mundo, a 16 de Abril, os vencedores desta edição.
As fotografias que venceram os prémios mais importantes foram captadas no continente africano.O japonês Yasuyoshi Chiba, fotógrafo da France-Presse para a África Oriental, ficou na história do concurso como vencedor da Foto do Ano de 2020, com a imagem de um protesto pacífico contra o estado de sítio e o “blackout” impostos no Sudão, em Abril de 2019, pela junta militar que tomou o poder.
A imagem, captada a 19 de Junho, foca um jovem sudanês , que recitava um poema durante uma manifestação contra o regime. À sua volta, dezenas de luzes de telemóveis iluminavam o momento, já que a eletricidade havia sido cortada pelos militares, na tentativa de desmobilizar os protestos.
Chiba, fotógrafo japonês de 49 anos radicado em Nairobi, no Quénia, explicou que “aquela zona estava sob um blackout total. Inesperadamente, as pessoas começaram a bater palmas no escuro. Ergueram os telemóveis para iluminar um jovem que estava no meio deles. Recitou um famoso poema de protesto, improvisado. Entre fôlegos, gritava-se ‘thawra’, a palavra árabe para revolução.
“A sua expressão facial e a sua voz impressionaram-me, -- sublinhou -- não conseguia parar de focar-me nele e captei o momento”.
Yasuyoshi Chiba tem, também, trabalhado no Brasil, e na Nigéria, sendo já considerado um veterano desta competição, na qual foi premiado em categorias temáticas nas edições de 2009 e 2012.
Em nome do júri dos prémios, anunciados na cidade holandesa de Haia, Chris McGrath, fotógrafo da Getty Images, considerou que a imagem vencedora simbolizava “a agitação de pessoas, em todo o mundo, que reclamam mudança”.
Já na Reportagem do Ano destacou-se o trabalho do fotógrafo independente Romain Laurendeau, que seguiu, ao longo de 5 anos, a vida de jovens argelinos, que se tentam alhear da sociedade conservadora que integram através do futebol ou das chamadas “freedom bubbles”.
O trabalho de Laurendeau destaca-se por ter captado o movimento de revolta da juventude argelina, que culminou em Fevereiro de 2019. Movimento esse que levaria, em Abril, à deposição do presidente Abdelaziz Bouteflika.
Laurendeau deu à sua reportagem o título “Kho, a Génese de uma Revolta”, sendo que “kho”, é a gíria usada pela juventude argelina para “irmão”.
Romain Laurendeau formou-se em fotografia na ETPA em Toulouse, França, e trabalhou em projectos de longa duração como fotógrafo profissional em França, Senegal, Argélia, Territórios Palestinos e Israel.
Os autores da Foto e da Reportagem do ano foram premiados com 10 mil euros.
A par da fotografia e da reportagem do ano, o concurso – ao qual se candidataram, este ano, 4282 fotógrafos – atribui ainda prémios em oito categorias temáticas: temas contemporâneos, ambiente, notícias, projectos de longa duração, natureza, retratos, desporto e “spot news”.
Embora sem direito a prémio pecuniário, os distinguidos nas várias categorias são convidados, como sempre acontece, com viagens e despesas pagas para assistir à cerimónia de entrega dos prémios e ao festival promovido pela organização, agendado para os dias 16 a 18 de Abril em Amesterdão.
Também a habitual exposição itinerante com os trabalhos premiados, que nas últimas edições percorreu mais de 120 cidades em todo o mundo, está condicionada por motivos óbvios.
Os jornalistas devem manter-se fiéis aos valores de ética e deontologia, reconhecendo a importância do seu trabalho para a vida democrática, e lutando para melhorar as condições de trabalho no sector mediático, considerou Miguel Ormaetxea num texto publicado no “site” Media-Tics.
Conforme apontou Ormaetxea, o jornalismo em Espanha está a enfrentar um período difícil, uma vez que, de forma a conseguirem emprego, os profissionais dos “media” aceitam escrever peças de pouco interesse, limitando-se a partilhar informações superficiais “ad nauseam”.
Além disso, continuou o autor, os profissionais espanhóis parecem ir todos atrás das mesmas histórias, resultando em bancas de jornais repletas de “manchetes” semelhantes e, por vezes, contraditórias.
Perante este cenário, Ormaetxea pede aos jornalistas que contrariem o “status quo”, deixando de sucumbir às vontades de grandes empresários de “media”, que “só sabem demitir, cortar salários e despesas”.
Até porque, de acordo com o articulista, a sobrevivência do jornalismo depende do investimento em “ qualidade, em inovação, em novas tecnologias, e em talento''.
Neste sentido, Ormaetxea considera essencial que os jornalistas deixem, também, de aceitar as exigências do governo, que promovem conferências de imprensa sem a possibilidade de intervenção dos repórteres, o que representa um ataque à liberdade de imprensa.
Da mesma forma, o autor recorda que os profissionais dos “media” devem parar de arriscar a sua vida “em troca de uns tostões”, e de “peças mal amanhadas”.
A instabilidade política e social na Venezuela levou muitos jornalistas a radicaram-se em países vizinhos, como forma de garantir a sua segurança e subsistência financeira.
Foi esse o caso de Pierina Sora, uma jornalista de Caracas que, em 2018, se mudou para o Peru. No entanto, esta profissional continua a informar os cidadãos venezuelanos, lutando pela liberdade de imprensa, conforme explicou em entrevista ao “Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
De acordo com Sora, a Venezuela está, de momento, a “atravessar uma complexa crise humanitária”, que levou muitos outros cidadãos a seguirem o seu exemplo, e a mudarem-se para o Peru.
Foi perante este cenário que Sora decidiu criar o projecto “Cápsula Migrante”, um “site” lançado em Maio de 2020, no contexto da crise pandémica, com o objectivo de apoiar “a comunidade migrante”.
Este projecto serve, também, como alternativa aos cidadãos que continuam na Venezuela, e que têm dificuldade em aceder a jornalismo de qualidade, devido às restrições impostas pelo governo.
Tal como explicou Sora, as dificuldades na Venezuela verificam-se tanto a nível de ataques físicos aos colaboradores dos “media”, como na restrição do acesso ao papel para imprimir jornais, e, ainda, no bloqueio da internet.
Assim, o “Cápsula Migrante”, juntamente com outros projectos de jornalismo local e hiperlocal, tem tentado “dedicar-se às comunidades”, dando-lhes poder através da “informação de qualidade”.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.