A pandemia do coronavírus levantou uma situação paradoxal nos “media”: enquanto, por um lado, os jornais “online” registam um aumento considerável da sua audiência, a sua situação económica é mais crítica do que nunca, devido, em grande parte, ao colapso do investimento publicitário. No caso das publicações impressas, verifica-se uma combinação quebra de vendas com dificuldades nas entregas domiciliárias.
Esta situação foi relatada num estudo intitulado “El impacto de la pandemia en la prensa”, da empresa de consultoria Evoca Imagen. De acordo com esse documento, o sector está também a ser afectado, a curto prazo, pelo cancelamento de eventos, pela promoção de novos produtos digitais, pelo aumento do teletrabalho e da flexibilidade laboral e pela recessão económica .
Outra das consequências do impacto da pandemia passa pela alteração dos hábitos dos consumidores. Segundo indica o estudo, o Covid-19 irá acelerar algumas das tendências do sector. Os “media” terão de dar prioridade às versões digitais, em detrimento do formato em papel, cuja popularidade entrará em declínio.
As empresas editoras poderão liderar a gestão de projectos de outras empresas. Este será o momento ideal para promover e consolidar as exploração no domínio da consultoria e da análise de dados.
Por outro lado, "a necessidade de poupança de custos será outro factor que contribuirá para o trabalho à distância e para a supressão de deslocações e viagens desnecessárias". O trabalho no sector será mais flexível. Esta realidade não impedirá, contudo, que os jornalistas sejam, frequentemente, mais solicitados a desenvolver o seu labor fora das redacções, actuando em jornalismo de investigação, cada vez mais desejado.
Paralelamente à transformação digital, os “media” terão de diversificar os seus modelos de negócio. O modelo de publicidade terá, também, de ser revisto. As assinaturas digitais e a lealdade dos leitores será mais relevante do que nunca.
E, assim, é provável que os “media” comecem a investir na criação de novos produtos informativos, como “podcasts” e “newsletters”. Todas as ofertas serão, altamente pormenorizadas e especializadas, já que o público passou a apreciar jornalismo de “profundidade”, desvalorizando trabalhos superficiais.
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.