A crise mediática e o desemprego no sector estão a conduzir ao aparecimento de “startups” de jornalismo. As iniciativas começam a ter sucesso, na Europa, e os “media” latino-americanos têm tentado seguir os seus modelos de negócio.
Para perceber de que maneira as fórmulas europeias podem ser adaptadas à realidade do sul da América, o jornalista argentino Javier Borelli iniciou uma investigação profunda, agora publicada pelo Reuters Institute, da Universidade de Oxford.
Além de repórter, Borelli é o fundador do jornal “Tiempo Argentino” o que faz deste profissional uma parte interessada no próprio estudo, através do qual conseguiu identificar medidas que podem ser implementadas no jornal argentino. Os projectos Diario.es e Mediapart foram os principais objectos de análise.
Em 2015, o “Tiempo” entrou em falência devido à quebra na publicidade oficial e à crise económica que assolou a Argentina . Assim, o jornalpassou a adoptar um modelo de negócio mais próximo das “startups” de jornalismo, concentrando os seus esforços no conteúdo digital. No entanto, faltava capital para o negócio.
As mudanças passaram, então, pela alteração do modelo de financiamento. A redacção do “Tiempo” é, agora, uma cooperativa, dependente do investimento de membros externos. Os jornalistas estabeleceram uma ligação próxima com os colaboradores, com quem estão, permanentemente, em contacto, e que são presença assídua nos eventos do jornal.
A relação com os membros requer, contudo, uma estratégia de comunicação específica. Uma das formas de conseguir isso mesmo passa pelo envio de mensagens personalizadas -- “Um programa avisa quando os membros não estão activos, e nós enviamos um e-mail para descobrir o porquê,” explicou Borelli.
O “Tiempo” depende, ainda, de uma equipa de “marketing”, já que Borelli admite que os jornalistas têm dificuldade em estabelecer parcerias. Isso permite que a redacção se concentre no jornalismo, delegando as tarefas administrativas a especialistas.
No actual contexto, Borelli acredita que o aparecimento de “media” independentes pode contribuir para o fortalecimento dos veículos que já estão no mercado. Ele reconhece que a mudança passa pela valorização do jornalismo pelo público.
Artigo originalmente publicado no blog Jornalismo nas Américas
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.