A sátira ou a caricatura estão frequentemente entre os primeiros alvos dos regimes autoritários , apostados em silenciar a liberdade de expressão.
A jornalista Amina Boubia, considera, num artigo para o Global Investigative Journalism Network que não se trata de um mero acaso: uma sátira bem contada pode comunicar verdades, desafiar tabus e entreter o público de uma forma mais acessível e envolvente do que o jornalismo convencional, de cara séria.
Os programas satíricos apelam ao público mais jovem, que tem mais probabilidade de acompanhar as notícias, procurar mais informação, recordar factos e participar em actividades políticas, como resultado do consumo de comédia política.
A autora conversou com dois veteranos da sátira política: Isam Uraiqat e Juan Ravell. Isam é o fundador da Al Hudood, uma organização de media especializada em sátira, responsável pelo que “site” "A Cebola do Médio Oriente" e Juan é o director de um jornal satírico online venezuelano, “El Chigüire Bipolar”.
Isam considera que a sátira é particularmente importante no Médio Oriente, devido às “enormes restrições à liberdade de expressão”. O veterano considera que a sátira é “um dos poucos formatos que pode sobrepor-se à censura, pois as autoridades nem sempre sabem como lidar com ela”.
Isam Uraiqat realiza, todos os dias, em conjunto com a sua equipa, um levantamento das notícias e escolhe quais são as mais importantes. O jornalista diz que as “piadas em si não são a parte mais difícil, sendo que vamos treinando a mente para pensar de uma certa maneira”. Para ele, o aspecto mais importante do trabalho é desenvolver o factor editorial que permita distinguir uma boa sátira de uma má sátira.
O fundador do Al Hudood reitera que é necessário ter “muito cuidado, pois a sátira pode, por vezes, piorar as coisas e tornar-se viral pelas razões erradas” e ter em atenção a cobertura de todos os lados da mesma história.
“Por exemplo, em relação à divisão saudita, se tivermos uma história sobre os sauditas, garantimos que também lançamos algo sobre o Irão. Sempre que possível, fazemos isso na mesma história, porque as histórias têm uma vida própria”.
Já Ravell, do “Chigüire Bipolar”, considera que o jornal fala da realidade, mas de uma forma divertida. A principal dificuldade do jornal é relatar os factos, de forma satírica, mas sempre coerente, para não levar as pessoas a pensar em algo que não é verdade.
O jornalista considera, no entanto, que “alguns assuntos são impossíveis de se abordar com humor, ou , pelo menos, devem ser abordados de uma forma muito delicada”, apesar de defender que, juntamente com a equipa, conseguiu tratar o caso “Lava Jato” – que investigou várias personalidades brasileiras pelo crime de lavagem de dinheiro - de forma particularmente eficaz.
Na década de 1980, um grupo de colaboradores dos “media” brasileiros fez aprovar uma lei para a regionalização da produção jornalística, educativa e cultural, recordou Chico Sant’Anna num artigo publicado no “Observatório da Imprensa”, associação com a qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Contudo -- segundo recordou o autor -- este documento nunca foi aplicado. Assim, as grandes operadoras brasileiras passaram a produzir uma “grelha” de conteúdos uniformes, focada nos grandes polos económicos do país, e omitindo a diversidade cultural dos diversos Estados.
Agora, a realidade pode estar prestes a mudar, por iniciativa do Conselho Administrativo de Defesa Económica – Cade.
O Cade -- órgão vinculado ao ministério da Justiça -- realizou, recentemente, uma análise às “condutas anticompetitivas" do sector mediático.
A conclusão foi de que a estruturação dos “media” em redes nacionais é algo “negativo”, porque “limita a variedade de conteúdo, sendo transmitida menos programação do que existiria, se cada geradora fosse directamente responsável pelos [seus] produtos audiovisuais”.
Além disso, uma maior pluralidade na produção de conteúdos geraria mais emprego, faria as receitas da indústria cultural circularem e abriria oportunidades para profissionais que não migraram para os polos de produção.
A regionalização da produção cultural e mediática facilitaria, igualmente, a representação de todos os cidadãos brasileiros, promovendo, ainda, talentos de todos os cantos do país.
Ao completar 40 anos de actividade ininterrupta o CPI – Clube Português de Imprensa tem um histórico de que se orgulha. Foi a 17 de dezembro de 1980 que um grupo de entusiastas quis dar forma a um projecto inédito no associativismo do sector.
Não foi fácil pô-lo de pé, e muito menos foi cómodo mantê-lo até aos nossos dias, não obstante a cultura adversarial que prevalece neste País, sempre que surge algo de novo que escapa às modas em voga ou ao politicamente correcto.
O Clube cresceu, foi considerado de interesse público; inovou ao instituir os Prémios de Jornalismo, atribuídos durante mais de duas décadas; promoveu vários ciclos de jantares-debate, pelos quais passaram algumas das figuras gradas da vida nacional; editou a revista Cadernos de Imprensa; teve programas de debate, em formatos originais, na RTP; desenvolveu parcerias com o CNC- Centro Nacional de Cultura, Grémio Literário, e Lusa, além de outras, com associações congéneres estrangeiras prestigiadas, como a APM – Asociacion de la Prensa de Madrid e Observatório de Imprensa do Brasil.
A convite do CNC, o Clube juntou-se, ainda, à Europa Nostra para lançar, conjuntamente, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, instituído pela primeira vez em 2013, em, homenagem à jornalista, que respirava Cultura, cabendo-lhe o mérito de relançar o Centro e dinamizá-lo com uma energia criativa bem testemunhada por quem a acompanhou de perto.
Mais recentemente, o Clube lançou os Prémios de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o jornal A Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares, procurando preencher um vazio que há muito era notado.
Uma efeméride “redonda” como esta que celebramos é sempre pretexto para um balanço. A persistência teve as suas recompensas, embora, hoje, os jornalistas estejam mais preocupados com a sua subsistência num mercado de trabalho precário, do que em participarem activamente no associativismo do sector.
Sabemos que esta realidade não afecta apenas o CPI, mas a generalidade das associações, no quadro específico em que nos inserimos. Seriam razões suficientes para nos sentarmos todos à mesa, reunindo esforços para preparar o futuro.
Com este aniversário do CPI fica feito o convite.
A Direcção