O insulto nos comentários dos leitores, nos jornais online, é mais comum nas notícias de Política do que nas de Sociedade. Tornou-se “normal”, até ao ponto de os que reagem e criticam esse tipo de comportamento serem “quase ridicularizados pelos outros comentadores”.
Isto resulta da “forma como o jornalismo fala de política e da forma como os próprios políticos falam de política”. O que normaliza o insulto nas caixas de comentários “é o facto de as próprias notícias fazerem referência a declarações de políticos que são, eles próprios, incivis, com ataques pessoais”.
A reflexão é do investigador João Gonçalves, autor de uma tese de doutoramento em Comunicação, intitulada - “O Peso da Escolha: O Discurso Online dos Públicos em Período Eleitoral”, baseada na análise de 28 mil comentários recolhidos nos jornais Público, Expresso e Observador, durante a campanha das legislativas de 2015. João Gonçalves é actualmente professor na Univbersidade de Roterdão, na Holanda.
Em entrevista ao Público, que aqui citamos, o autor explica que “a grande diferença é que as pessoas criticam o insulto quando ele acontece na secção de Sociedade”:
“O mesmo não acontece nas notícias da Política. Na Política é quase normal haver insulto nas caixas de comentário. (...) Os jornais, ao tratarem as eleições como um jogo, focando-se em quem está à frente e quem está atrás - com uma atenção maior às sondagens - reduzem a qualidade dos comentários às notícias.”
“É a ideia de horse race (corrida de cavalos), introduzida num trabalho clássico de Broh” - Anthony Broh, Horse-Race Journalism: Reporting the Polls in the 1976 Presidential election. (...)
“O que os resultados mostram é que tratar a política como um jogo, colocar o foco no discurso do quem ganha e quem perde, aumenta a participação dos leitores, o que é positivo. (...) Por outro lado, há menos relevância nesses comentários - as pessoas tendem a afastar-se dos tópicos e a falar de outros assuntos. Mas não tem consequências para a civilidade.” (...)
O elemento agressivo e de incivilidade pode ser trazido pelos próprios políticos:
“O discurso dos comentadores espelha os temas da agenda dos partidos e dos seus programas. Do mesmo modo, o tom que se usa nas discussões também decorre do tom usado pelos políticos. Quando as pessoas percebem que a forma normal de falar de política é o ataque quase constante, acabam por se atacar entre si quando discutem política.” (...)
Quando o tema da polémica são ataques à competência, ou sugestão de que “alguém é desonesto ou cometeu crimes, os principais visados são os políticos”:
“Quando estamos a falar de ataques à identidade (insultos pessoais), são repartidos entre políticos e outros comentadores. Por vezes, os jornalistas também são visados, sobretudo nos ataques à competência.”
“Um terço dos comentários não tem qualquer tipo de insulto. Um terço dos comentários tem incivilidade dirigida aos políticos e 20% aos outros comentadores e 5% à Imprensa e aos jornalistas.”
“Grande parte da incivilidade não tem a ver com os níveis de educação das pessoas, nem com o facto de comentarem mais ou menos intensamente, mas com uma afiliação ideológica mais vincada. As pessoas mais polarizadas são tipicamente aquelas que têm um discurso mais incivil. Quanto mais se entrincheiram num determinado ponto de vista, menos tendem a aceitar os outros.” (...)
A entrevista aqui citada, na íntegra no Público impresso, com o acesso online exclusivo para assinantes.
O mês de Maio tem sido negro para os jornalistas, com o assassinato de quatro mulheres jornalistas em apenas sete dias.
Conforme apontou o “Guardian”, dois dos homicídios ocorreram no México, um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico. As vítimas foram Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, do “site” “El Veraz”.
Semanas antes da sua morte, Yesenia Mollinedo Falconi, havia recebido ameaças de morte, na sequência das suas investigações sobre crime e corrupção. Ainda assim, aquela jornalista estava confiante de que não corria perigo.
Dois dias após a morte das profissionais mexicanas, foi noticiada outra tragédia: o assassinato de Shireen Abu Akleh, uma correspondente da Al Jazeera, que acompanhava o conflito israelo-árabe há vários anos.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU mostrou-se “chocado” com a morte deste profissional e exigiu, entretanto, uma “investigação independente e transparente” sobre o sucedido.
Também a directora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, se juntou no apelo a uma “investigação completa” à morte da jornalista.
“O assassinato de uma jornalista claramente identificada, numa zona de conflito, é uma violação do direito internacional“, disse Azoulay em comunicado, pedindo uma investigação para levar “os responsáveis à justiça”.
No dia a seguir, ficou conhecido o homicídio da jornalista colombiana Francisca Sandoval, morta durante a cobertura noticiosa de uma manifestação.
Na Polónia, várias empresas mediáticas começaram a lançar produtos noticiosos em ucraniano, como forma de responder às necessidades dos três milhões de refugiados que chegaram ao país desde o início da guerra.
Conforme apontou o “Nieman Lab”, a Agência Noticiosa Polaca (Polska Agencja Prasowa, ou PAP) foi uma das primeiras organizações a partilhar artigos em ucraniano, graças a uma equipa de cinco jornalistas, que têm vindo a dedicar-se à tradução e produção de conteúdos.
Este serviço em ucraniano foi criado em apenas uma semana, e publica artigos diários sobre a invasão da Ucrânia.
“Esta guerra mudou tudo”, disse Jaros?aw Junko, coordenador dos serviços ucraniano e russo daquela agência noticiosa. “Todos os ‘sites’ informativos polacos de renome começaram a oferecer produtos em ucraniano. Esta é uma mudança importante, e mostra que a Polónia está a respeitar os ‘vizinhos’ que chegam ao país”.
Agora, a PAP quer expandir a editoria ucraniana, passando a incluir conteúdos sobre apoio legal, e ajuda económica para refugiados.
Outra das publicações que apostou em conteúdos ucranianos foi a “Onet” que, agora, partilha dez artigos diários sobre o conflito e, ainda, sobre a adaptação à vida na Polónia.
“Fazemos o nosso melhor para sermos um guia sobre a vida neste país”, explicou Kamil Turecki, coordenador da “Onet”.
Também o Grupo RMF decidiu ajudar esta causa, lançando uma nova estação de rádio em ucraniano, com frequências nas cidades fronteiriças de Przemysl e Hrubieszow.
Os ciberataques passaram a fazer parte da paisagem mediática portuguesa. Depois do Grupo Impresa ter sido seriamente afectado, juntamente com a Cofina, embora esta em menor grau de exposição, chegou a vez do Grupo Trust in News, que detém o antigo portfólio de revistas de Balsemão, como é o caso do semanário “Visão”.
Outras empresas foram igualmente visadas, em maior ou menor escala, desde a multinacional Vodafone aos laboratórios Germano de Sousa.
Não cabe neste espaço qualquer comentário especializado a tal respeito, mas não nos isentamos de manifestar uma profunda preocupação relativamente à continuidade - e aparente impunidade - destes actos ilegais, que estão a pôr a nu as vulnerabilidades dos sistemas e redes, tanto públicos como privados.
Recorde-se que este site do Clube Português de Imprensa já foi alvo, também, de intrusões pontuais que bloquearam a sua actualização regular, o que voltou a acontecer, embora de uma forma indirecta, como consequência da inoperacionalidade do operador de telecomunicações atingido.
Oxalá estes ataques de “hackers”, já com um carácter mais “profissional”, tenha contribuído para alertar os especialistas e as autoridades competentes em cibersegurança no sentido de adoptarem as medidas de protecção que se impõem.
As fragilidades ficaram bem à vista.