O séc. XXI está a assistir à “armamentização” da informação a uma escala sem precedentes, mas o jornalismo pode contra-atacar. É nestes termos que é apresentado um documento agora tornado disponível pela UNESCO, concebido como um guia prático para editores, jornalistas no terreno e docentes, intitulado Journalism, ‘Fake News’ & Disinformation.
“Este novo manual baseia-se nas percepções e conselhos de especialistas de todo o mundo para lançar luz sobre a poluição da informação e explicar de que modo pode o jornalismo contra-atacar” - explica Guy Berger, director do departamento de Liberdade de Expressão e Desenvolvimento dos Media da UNESCO.
Segundo a apresentação do texto, que aqui citamos da International Journalists’ Network, trata-se de um guia que descreve as melhores práticas a seguir numa variedade de tópicos, desde regras básicas de fact-checking e verificção das redes sociais até à literacia para os media e o combate à agressão online.
Os docentes de jornalismo podem servir-se dos sete módulos nele desenvolvidos como estrutura de um currículo a usar em aulas, com destaques, exercícios, trabalhos e leituras propostas.
Os referidos módulos são: 1 - Verdade, Confiança e Jornalismo: porque são importantes; 2 - Reflexão sobre a “desordem da informação”; 3 - Mudanças no jornalismo: a tecnologia digital, as redes sociais e a desinformação; 4 - Combate à desinformação pela Literacia para os Media; 5 - “Fact checking”; 6 - Verificação das redes sociais; 7 - Combate à agressão online: quando jornalistas e fontes são alvos de ataque.
“A presente crise da desinformação exige competências avançadas de combate” - afirma a co-editora do manual, Julie Posetti, do Instituto Reuters, na Universidade de Oxford:
“Estas implicam a necessidade de ferramentas de alto nível para verificar as fontes, textos, vídeos e imagens das redes sociais, bem como de estratégias de combate ao assédio online, que é cada vez mais obra de campanhas orquestradas de desinformação, apontadas contrra os jornalistas.”
Julie Posetti foi também co-autora, no início de 2018, do “Breve Guia sobre a História das ‘Fake News’ e Desinformação”, elaborado para o IJN. Segundo explica, estas práticas existem desde a antiga Roma, mas o que é novo hoje “é a velocidade a que circula a desinformação por meio das redes sociais”:
“A capacidade de qualquer propagandista divulgar material que imita enganosamente o jornalismo, distorce a verdade ou fabrica de alto a baixo palavras e actos, é hoje ilimitada” - afirmou.
Sobre o combate às fake news, o documento cita o exemplo criativo de um teste interactivo, usado nas páginas do diário britânico The Guardian, em que são apresentadas diversas afirmações, redigidas pelos jornalistas da casa, entre as quais o leitor deverá idenficar as que são flagrantemente enganosas.
O Instituto Reuters promove um debate público, em painel, para assinalar o lançamento deste manual pela UNESCO, estando presente, entre outros especialistas, Julie Posetti.
O texto aqui citado, no site da IJNet; e o manual lançado pela UNESCO
Num ambiente mediático saturado de notícias, os leitores valorizam mais as que lhes são pessoalmente pertinentes - e isto não pode ser definido, numa redacção, medindo os clicks.
“As pessoas abrem frequentemente artigos que são divertidos, ou triviais, ou estranhos, sem sentido cívico evidente. Mas mantêm uma noção clara da diferença entre o que é trivial e o que é importante. De modo geral, querem estar informadas sobre o que se passa à sua volta, a nível local, nacional e internacional.”
A reflexão é de Kim Christian Schroder, um investigador dinamarquês que passou metade do ano de 2018 em Oxford, fazendo para o Reuters Institute um estudo sobre a relevância das notícias para os leitores - e o que isso aconselha às redacções.
“Na medida em que queiram dar prioridade às notícias com valor cívico, os jornalistas fazem melhor em confiar no seu instinto do que nesse sismógrafo de pouca confiança que são as listas dos textos ‘mais lidos’.”
Prossegue a 27 Fevereiro o ciclo de jantares-debate subordinado ao tema “Portugal: que País vai a votos?”, promovido pelo CPI, em parceria com o CNC e o Grémio Literário, tendo como orador convidado o Prof. Jorge Soares, que preside ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, desde 2016, preenchendo o lugar deixado vago por morte de João Lobo Antunes.
Director do Programa Gulbenkian Inovar em Saúde, da Fundação Calouste Gulbenkian, Jorge Soares já fazia parte daquele Conselho, antes de ser eleito para a sua presidência .
O seu currículo é vasto. Presidiu também à Comissão Externa para Avaliação da Qualidade do Ensino, e, mais tarde, assumiu a vice-presidência da Comissão de Ética da Fundação Champalimaud, e, a partir de 2016, foi presidente da Comissão Nacional dos Centros de Referência. É Perito Nacional na União Europeia do 3rd Programme “EuropeAgainst Cancer” .
Lançado em Novembro de 2015, este site tem vindo a conquistar uma audiência crescente, traduzida no número de visitantes e de sessões e do tempo médio despendido. É reconfortante e encorajador, para um projecto concebido para ser um espaço de informação e de reflexão sobre os problemas que se colocam, de uma forma cada vez mais aguda, ao jornalismo e aos media.
Observa-se , aliás, ressalvadas as excepções , que a problemática dos media , desde a precariedade dos seus quadros às incertezas do futuro - quer no plano tecnológico quer no editorial - , raramente constitui tema de debate nas páginas dos jornais, e menos ainda nas suas versões online ou nos audiovisuais. É um assunto quase tabú.