O jornalismo tornou-se obcecado pela inovação tecnológica e devia voltar a concentrar-se sobre a adesão da sua audiência, a escrita dos seus temas e o desenvolvimento do seu modelo de negócio. Agora sofre de uma espécie de “síndrome dos brinquedos novos”, mais interessado pelos desafios da distribuição do que pela qualidade dos conteúdos, arriscando-se a deixar os editores dependentes de plataformas tecnológicas, como o Facebook.
São estas as principais conclusões de um novo estudo realizado pelo Instituto Reuters e baseado sobre os depoimentos de 39 profissionais, incluindo grandes editores internacionais, CEO’s de empresas de media, especialistas de várias áreas de inovação e consultores de meios digitais, provenientes de 17 países.
O trabalho de campo foi feito em duas mesas-redondas separadas, organizadas no contexto de duas grandes conferências realizadas em Lisboa - a Cimeira da Global Editors’ Network e o World News Publishing Congress, em Maio e Junho de 2018.
A autora do relatório, a investigadora Julie Posetti, estudou os desafios e os obstáculos da inovação no jornalismo, como estão a ser enfrentados, tanto pelos meios de comunicação tradicionais, como pelos “nativos digitais”. A sua observação é que os grandes meios tradicionais, de alcance global, sentem agora a necessidade de “abrandar”, e pensar de um modo mais estratégico - o que não é tão fácil para os “nativos digitais” de menor dimensão, estes mais dependentes da inovação.
Segundo o relatório, vários dos participantes argumentaram que a inovação está a distrair o jornalismo dos seus objectivos de fundo.
“A 'síndrome dos brinquedos novos' desvia-nos da narrativa, e corremos o risco de esquecer aquilo que somos; esse é o maior desafio” - afirmou Kim Bui, jornalista do diário The Arizona Republic.
Outra participante, Maria Ressa, directora do Rappler.com, das Filipinas, advertiu sobre o risco de uma excessiva dependência das plataformas:
“O motivo pelo qual o oxigénio foi sugado das nossas empresas é porque foi todo para a distribuição, e nada para o conteúdo. De que modo vamos redefinir isto, de modo a que as plataformas não nos devorem vivos?”
Julie Posetti comenta ainda que alguns dos mais proeminentes líderes digitais estão a despertar para a consciência das “consequências indesejadas” da inovação tecnológica sobre o jornalismo - entre elas os ataques online visando as mulheres jornalistas, a desinformação “viral” e os riscos de segurança que colocam, aos jornalistas e às suas fontes, as brechas de privacidade incluídas na tecnologia digital.
O artigo aqui citado, no European Journalism Observatory, e o relatório do Reuters Institute, em PDF. Mais informação no NiemanLab
Num ambiente mediático saturado de notícias, os leitores valorizam mais as que lhes são pessoalmente pertinentes - e isto não pode ser definido, numa redacção, medindo os clicks.
“As pessoas abrem frequentemente artigos que são divertidos, ou triviais, ou estranhos, sem sentido cívico evidente. Mas mantêm uma noção clara da diferença entre o que é trivial e o que é importante. De modo geral, querem estar informadas sobre o que se passa à sua volta, a nível local, nacional e internacional.”
A reflexão é de Kim Christian Schroder, um investigador dinamarquês que passou metade do ano de 2018 em Oxford, fazendo para o Reuters Institute um estudo sobre a relevância das notícias para os leitores - e o que isso aconselha às redacções.
“Na medida em que queiram dar prioridade às notícias com valor cívico, os jornalistas fazem melhor em confiar no seu instinto do que nesse sismógrafo de pouca confiança que são as listas dos textos ‘mais lidos’.”
Prossegue a 27 Fevereiro o ciclo de jantares-debate subordinado ao tema “Portugal: que País vai a votos?”, promovido pelo CPI, em parceria com o CNC e o Grémio Literário, tendo como orador convidado o Prof. Jorge Soares, que preside ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, desde 2016, preenchendo o lugar deixado vago por morte de João Lobo Antunes.
Director do Programa Gulbenkian Inovar em Saúde, da Fundação Calouste Gulbenkian, Jorge Soares já fazia parte daquele Conselho, antes de ser eleito para a sua presidência .
O seu currículo é vasto. Presidiu também à Comissão Externa para Avaliação da Qualidade do Ensino, e, mais tarde, assumiu a vice-presidência da Comissão de Ética da Fundação Champalimaud, e, a partir de 2016, foi presidente da Comissão Nacional dos Centros de Referência. É Perito Nacional na União Europeia do 3rd Programme “EuropeAgainst Cancer” .
Lançado em Novembro de 2015, este site tem vindo a conquistar uma audiência crescente, traduzida no número de visitantes e de sessões e do tempo médio despendido. É reconfortante e encorajador, para um projecto concebido para ser um espaço de informação e de reflexão sobre os problemas que se colocam, de uma forma cada vez mais aguda, ao jornalismo e aos media.
Observa-se , aliás, ressalvadas as excepções , que a problemática dos media , desde a precariedade dos seus quadros às incertezas do futuro - quer no plano tecnológico quer no editorial - , raramente constitui tema de debate nas páginas dos jornais, e menos ainda nas suas versões online ou nos audiovisuais. É um assunto quase tabú.