A mais recente mudança aplicada pelo Facebook ao conteúdo do seu News Feed “marca uma reviravolta na estratégia de fidelização do público, tornando ainda mais complexa a batalha da Imprensa para sobreviver na era digital”. E, “se o balanço do ‘namoro jornalístico’ entre Facebook e grandes jornais não foi muito promissor, os resultados da aposta publicitária pela Imprensa também não foram animadores, especialmente para as publicações menores”. As consequências de tudo isto “podem mudar os rumos da guerra surda entre Imprensa e redes sociais virtuais, porque reabrem a polémica sobre se elas podem ser consideradas meios de comunicação, ou se são apenas uma plataforma tecnológica, sem compromissos editorais ou jornalísticos”.
É esta a reflexão inicial de Carlos Castilho, jornalista e investigador académico, no Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual mantemos um acordo de parceria. O seu texto faz uma espécie de revisão da matéria dada sobre este problema e descreve a surpresa e alarme com que a referida mudança foi recebida pelos media que tinham arriscado muito - demasiado - naquela relação.
“A nova orientação editorial altera drasticamente a relação entre a rede e boa parte da Imprensa que, há pouco mais de dois anos, achou que o Facebook poderia ser uma excelente oportunidade para ampliar audiências e obter um facturamento publicitário adicional. Na época, foram muitos os que advertiram jornais, revistas e empresas de rádio ou televisão, de que a aposta na ampliação de audiência poderia ser ilusória e perigosa, pois a rede de Mark Zuckerberg passaria a controlar a relação da Imprensa com o público, sem a garantia de receitas capazes de resolver a crise no modelo de negócios dos media.” (...)
Numa primeira fase, as audiências da fonte de notícias do Facebook estabilizaram, nos países ricos, “num patamar de 45% do total geral de acessos a este tipo de conteúdo, embora ainda seja quase duas vezes e meia maior do que no YouTube, o segundo colocado no ranking, com 18%”. (...)
Mas a receita publicitária não acompanhou as expectativas:
“Apenas os grandes jornais conseguiram alguma receita com anúncios na área de notícias do Facebook. Os pequenos e médios ficaram bem longe das expectativas iniciais, facto que também se repetiu na questão das audiências. Só depois é que os jornais perceberam que audiência e tráfego não significam a mesma coisa. Audiência implica fidelização de leitores, enquanto o tráfego mede apenas o número de pessoas que acedem à página, sem a preocupação de voltar.
O Facebook oferece circulação de notícias mas não audiências fiéis.” (...)
Segundo Carlos Castilho, duas questões, bem mais sérias e complexas, passam a preocupar os utentes das grandes plataformas:
“A primeira é sobre o controlo das redes sociais e a outra é sobre os problemas resultantes da globalização das estruturas e estratégias destas mesmas redes. A decisão do Facebook de mudar a sua estratégia de publicação de notícias, bem como outras decisões tomadas anteriormente, mostra que os utentes têm pouco poder de interferência nas opções da empresa. Isto coloca quase dois biliões e meio de pessoas, espalhadas pelo mundo, na dependência das decisões de Mark Zuckerberg, um executivo de apenas 33 anos, e dos seus assessores.” (...)
“Ao alterar a sua estratégia editorial em função de problemas políticos e comerciais nos Estados Unidos e Europa, o Facebook impôs a nova orientação a todas as demais nações do mundo onde existem utentes da rede. No caso dos países ricos, seguramente surgirão alternativas para o que Zuckerberg já não acha mais rentável, mas na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, as populações ainda dependem muito do Facebook e serão empurradas para um vácuo em matéria de redes sociais.” (...)
O artigo de Carlos Castilho, na íntegra, no Observatório da Imprensa
Parece excessivo declarar que os repórteres são os heróis do nosso tempo, como vem no título do texto que aqui citamos. Quem o diz não é um jornalista, mas um historiador. E explica porquê, e de que repórteres está a falar. Trata-se daqueles que assumem riscos e perdem a vida para investigar a verdade do que sucede à nossa volta - e esse tipo de reportagem de investigação “é um pedacinho microscópico dessa coisa a que chamamos media”.
Os repórteres que “correm riscos pela verdade” fazem-no por todos nós, incluindo pelos soldados que vamos ou não enviar para a frente de batalha. O único modo de avaliarmos as guerras em que nos envolvemos é tendo repórteres “com a coragem e a capacidade de irem lá fazer reportagem”. Esta reflexão é do historiador norte-americano Timothy Snyder, que citamos da Global Investigative Journalism Network.
Pode acontecer que o melhor jornalismo nem seja o que é mais lido. Não gostamos de ouvir esta notícia, mas foi disto e de outras coisas parecidas que se falou no XXI Laboratorio de Periodismo da APM, o debate periódico sobre temas de actualidade que, na sua edição de Abril de 2017, teve por tema “O que lêem e o que não lêem os leitores”. O encontro decorreu na sede da Asociación de la Prensa de Madrid - com a qual mantemos um acordo de parceria - e foi moderado por Nemésio Rodríguez, vice-presidente da APM e actual presidente da FAPE – Federación de las Asociaciones de Periodistas de España.
Este site do Clube Português de Imprensa nasceu em Novembro de 2015. Poderia ter sido lançado, como outros congéneres, apenas com o objectivo de ser um espaço informativo sobre as actividades prosseguidas pelo Clube e uma memória permanente do seu histórico de quase meio século . Mas foi mais ambicioso.
Nestes dois anos decorridos quisemos ser, também, um espaço de reflexão sobre as questões mais prementes que se colocam hoje aos jornalistas e às empresas jornalísticas, perante a mudança de paradigma, com efeitos dramáticos em não poucos casos.
Os trabalhos inseridos e arquivados neste site constituem já um acervo invulgar , até pela estranha desatenção com que os media generalistas seguem o fenómeno, que está a afectá-los gravemente e do qual serão, afinal, as primeiras vítimas.