Demissões, despedimentos e fecho de jornais não são novidade, mas parece que há cada vez mais. “Ou talvez seja uma coisa que vem por ondas e, se for assim, estamos a atravessar uma das grandes”. Todos os dias aparecem mais casos, e há o receio de que a recente decisão do Facebook de reduzir a prioridade do material noticioso na plataforma venha acelerar os estragos. A reflexão é de Mathew Ingram, redactor principal da Columbia Journalism Review para o digital.
O primeiro exemplo que relata é o de que, precisamente um dia depois de a CJR ter publicado um texto sobre as dificuldades de alguns jornalistas estrangeiros em venderem o seu material freelance, o director do International Reporting Project (da Fundação New America) anunciou que este projecto vai fechar.
“O IRP financiou jornalismo, durante mais de duas décadas, em mais de 115 países. Não foi explicado o motivo desta decisão.”
“Entretanto, estão em curso demissões significativas na Digital First Media, uma cadeia de jornais, muitos deles na Califórmia, entre os quais The Orange County Register. A secção em Los Angeles da Society for Professional Journalists exprimiu, em comunicado, a sua ‘tristeza, frustração e consternação’ pelos cortes no Southern California News Group, daquela empresa.
“As pessoas queixam-se frequentemente de uma governação local indiferente e irresponsável, e o desaparecimento do jornalismo local é uma parte importante do motivo por que isto ocorre” - afirma a SPJ.
Os cortes também chegaram ao maior jornal do estado do Oregon, The Oregonian, “com mais de onze membros da equipa a perderem o emprego, na sexta vaga de despedimentos ali ocorrida nos últimos anos”. Numa mensagem à redacção, o próprio editor, Mark Katches, desabafa: “Vocês estão provavelmente a interrogar-se sobre quando é que estes cortes vão acabar... Eu gostava de poder responder a isso.”
E acrescenta:
“Embora tenhamos conseguido progressos no aumento da nossa audiência digital, produzindo ao mesmo tempo um jornalismo importante e que ganha prémios, o retrato da receita continua a pôr problemas à nossa empresa.” (...)
Entre outros exemplos que acrescenta a este mau cenário, o texto de Mthew Ingram aponta:
O fecho das delegações no estrangeiro - ainda não anunciado oficialmente - da revista Foreign Policy, “historicamente um dos mais fiáveis destinos para freelancers que desejem escrever reportagens internacionais investigadas em profundidade”.
O Charleston Gazette-Mail, um jornal de propriedade familiar na Virgínia Ocidental, que no ano passado tinha ganho um Prémio Pulitzer de jornalismo de investigação, requereu declaração de falência. A Wheeling Newspapers, que publica semanários em várias cidades da região, é o candidato mais provável à sua aquisição.
Farhad Manjoo, do New York Times, responsabiliza a indústria da publicidade por tudo o que de mau acontece na Internet, dizendo que ela “recolhe e cataloga constantemente dados sobre o nosso comportamento, cria incentivos para ‘monetizar’ os nossos desejos mais privados e depois, com frequência abre brechas que as pessoas mais sombrias têm o maior interesse em explorar”. (...)
O texto citado, na Columbia Journalism Review
Num ambiente mediático saturado de notícias, os leitores valorizam mais as que lhes são pessoalmente pertinentes - e isto não pode ser definido, numa redacção, medindo os clicks.
“As pessoas abrem frequentemente artigos que são divertidos, ou triviais, ou estranhos, sem sentido cívico evidente. Mas mantêm uma noção clara da diferença entre o que é trivial e o que é importante. De modo geral, querem estar informadas sobre o que se passa à sua volta, a nível local, nacional e internacional.”
A reflexão é de Kim Christian Schroder, um investigador dinamarquês que passou metade do ano de 2018 em Oxford, fazendo para o Reuters Institute um estudo sobre a relevância das notícias para os leitores - e o que isso aconselha às redacções.
“Na medida em que queiram dar prioridade às notícias com valor cívico, os jornalistas fazem melhor em confiar no seu instinto do que nesse sismógrafo de pouca confiança que são as listas dos textos ‘mais lidos’.”
Prossegue a 27 Fevereiro o ciclo de jantares-debate subordinado ao tema “Portugal: que País vai a votos?”, promovido pelo CPI, em parceria com o CNC e o Grémio Literário, tendo como orador convidado o Prof. Jorge Soares, que preside ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, desde 2016, preenchendo o lugar deixado vago por morte de João Lobo Antunes.
Director do Programa Gulbenkian Inovar em Saúde, da Fundação Calouste Gulbenkian, Jorge Soares já fazia parte daquele Conselho, antes de ser eleito para a sua presidência .
O seu currículo é vasto. Presidiu também à Comissão Externa para Avaliação da Qualidade do Ensino, e, mais tarde, assumiu a vice-presidência da Comissão de Ética da Fundação Champalimaud, e, a partir de 2016, foi presidente da Comissão Nacional dos Centros de Referência. É Perito Nacional na União Europeia do 3rd Programme “EuropeAgainst Cancer” .
Lançado em Novembro de 2015, este site tem vindo a conquistar uma audiência crescente, traduzida no número de visitantes e de sessões e do tempo médio despendido. É reconfortante e encorajador, para um projecto concebido para ser um espaço de informação e de reflexão sobre os problemas que se colocam, de uma forma cada vez mais aguda, ao jornalismo e aos media.
Observa-se , aliás, ressalvadas as excepções , que a problemática dos media , desde a precariedade dos seus quadros às incertezas do futuro - quer no plano tecnológico quer no editorial - , raramente constitui tema de debate nas páginas dos jornais, e menos ainda nas suas versões online ou nos audiovisuais. É um assunto quase tabú.