O Facebook ganhou, e as empresas noticiosas francesas tornaram-se “triplamente dependentes: de expandirem a sua audiência de graça, do uso das ferramentas de produção e distribuição daquela rede social, e de ganharem um rendimento adicional”. Mas vem aí a “ressaca”. O Facebook vai cobrar às empresas que ficaram mais “agarradas” aos likes e ao tráfego que gerou para os seus sites. “Todos os dias, as equipas editoriais estão a trabalhar em força para produzirem conteúdos especificamente destinados àquela plataforma.” A reflexão é de Nicolas Becquet, num estudo publicado no European Journalism Observatory.
Como explica o autor, tudo começou de modo inocente, com a procura dos likes, mas o dealer das audiências soube fazer o seu trabalho. Aos poucos, os editores foram firmando com a plataforma um pacto parecido com um casamento de conveniência: “O dote da noiva vinha com dois milhares de milhões de utentes. O noivo pelintra não podia pedir melhor.” (...)
“Que repercussões terá esta servidão voluntária para o trabalho diário das redacções, grandes ou pequenas? Quais serão as consequências para as equipas que trabalham para encher as fontes noticiosas do Facebook, especialmente com o vídeo, live e a pedido?”
“E, acima de tudo, como é que a rede social conseguiu convencer tantos sites noticiosos, no limite das capacidades financeiras, a trabalharem para a sua plataforma?” (...)
Nicolas Becquet conta então - num artigo cuja extensão e pormenor exigem uma leitura na íntegra, pela importância do processo que é descrito - que o Facebook, na prática, está a seduzir jornais de todo o mundo com uma oferta que, uma vez contratada, não podem recusar.
Mark Zuckerberg criou uma “equipa de sonho” de pesos-pesados noticiosos dos EUA, que inclui The New York Times, a CNN, The Huffington Post, Vox, Mashable e até Condé Nast, que recebem determinada soma para produzirem quantidades enormes de conteúdo de alto valor para a plataforma, incluindo vídeo, Facebook Live, 360 e Instant Articles. “São pagos para inundarem as fontes noticiosas com conteúdos originais, que deverão depois convencer todas as outras editoras a seguirem o exemplo.” (...)
“A estratégia foi eficaz. Os sites contratados são grandes nomes, e isso, combinado com os poderosos algoritmos, ajudou a tornar os novos formatos a norma em todo o mundo, em menos de um ano.”
Em França, segundo o autor, a TF1, Le Figaro, Le Parisien e os títulos do grupo Le Monde encontram-se entre os que foram pagos para produzirem conteúdos de vídeo para o Facebook.
O preço a pagar é um cumprimento rigoroso dos formatos projectados e decididos na grande empresa patrocinadora. Mas esta dependência tem consequências também sobre os departamentos de publicidade das pequenas empresas, que não podem competir com as “malas cheias de dinheiro” de um gigante como o Facebook.
Nicolas Becquet ouve os argumentos (e as queixas) de vários dos envolvidos nesta aventura e sublinha, principalmente, que está a instalar-se um “ecossistema a duas velocidades”, com as pequenas empresas noticiosas a perderem a corrida e a possibilidade de manterem a audiência específica dos seus assinantes conhecidos.
E conclui:
“Os media franceses têm feito soar regularmente os alarmes sobre a perda de independência perante os accionistas industriais bilionários. No entanto, os mesmos media têm permitido a instalação de uma ameaça que é igualmente tóxica para o futuro dos seus sites e da própria democracia - a ameaça do soft power, do dinheiro e do ecossistema das GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple).
O artigo na íntegra, no European Journalism Observatory
Prossegue a 27 Fevereiro o ciclo de jantares-debate subordinado ao tema “Portugal: que País vai a votos?”, promovido pelo CPI, em parceria com o CNC e o Grémio Literário, tendo como orador convidado o Prof. Jorge Soares, que preside ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, desde 2016, preenchendo o lugar deixado vago por morte de João Lobo Antunes.
Director do Programa Gulbenkian Inovar em Saúde, da Fundação Calouste Gulbenkian, Jorge Soares já fazia parte daquele Conselho, antes de ser eleito para a sua presidência .
O seu currículo é vasto. Presidiu também à Comissão Externa para Avaliação da Qualidade do Ensino, e, mais tarde, assumiu a vice-presidência da Comissão de Ética da Fundação Champalimaud, e, a partir de 2016, foi presidente da Comissão Nacional dos Centros de Referência. É Perito Nacional na União Europeia do 3rd Programme “EuropeAgainst Cancer” .
Um ano depois do assassínio do jornalista eslovaco Jan Kuciak e da sua noiva, Martina Kusnirova, muitos milhares de manifestantes encheram as ruas de Bratislava, capital da Eslováquia, e de outras cidades do país. Os organizadores reafirmaram a exigência de uma investigação independente, e livre de interferência política, sobre o crime, que continua impune.
Kuciak, que investigava casos de corrupção, preparava-se para publicar documentos sobre uma presumível ligação entre políticos eslovacos e a máfia italiana, bem como sobre fraudes na utilização de fundos agrícolas europeus. A sua morte desencadeou uma crise política que levou à demissão do então primeiro-ministro, Robert Fico, e do seu governo.
Na manifestação em Kosice, a segunda cidade do país, falaram à multidão a mãe de Martina e o Presidente da Eslováquia, Andrej Kiska, que deu conta do estado das investigações, lamentando que as ligações entre os responsáveis não estejam ainda reveladas:
“Esperamos respostas tão breve quanto possível, porque ainda há muitas questões” - afirmou.
Lançado em Novembro de 2015, este site tem vindo a conquistar uma audiência crescente, traduzida no número de visitantes e de sessões e do tempo médio despendido. É reconfortante e encorajador, para um projecto concebido para ser um espaço de informação e de reflexão sobre os problemas que se colocam, de uma forma cada vez mais aguda, ao jornalismo e aos media.
Observa-se , aliás, ressalvadas as excepções , que a problemática dos media , desde a precariedade dos seus quadros às incertezas do futuro - quer no plano tecnológico quer no editorial - , raramente constitui tema de debate nas páginas dos jornais, e menos ainda nas suas versões online ou nos audiovisuais. É um assunto quase tabú.