Martin Baron, director do Washington Post, falou, em Madrid, sobre os meios de comunicação tradicionais, a transição tecnológica e os grandes desafios que se colocam ao jornalismo neste momento. É necessário “abraçar a mudança” – afirmou - sabendo, no entanto, que “todas as ferramentas tecnológicas do mundo não podem substituir o bom jornalismo”. Sobre a presente conjuntura política, depois das eleições nos EUA, disse que os jornalistas precisam de coragem, que a verdade é o maior desafio que o jornalismo enfrenta, acima do económico ou do tecnológico, e que “é necessário que existam meios que apostem na verdade”.
Martin Baron foi o convidado da quinta edição de “Conversaciones con”, realizada na Fundação Rafael del Pino, em Madrid. Segundo a síntese publicada pela Asociación de la Prensa de Madrid, com a qual mantemos um acordo de parceria, o jornalista norte-americano - tornado famoso pelo papel que teve como editor do Boston Globe, apoiando a equipa de investigação Spotlight - declarou que Donald Trump representa um desafio difícil para o jornalismo e que teremos de estar vigilantes para não começarmos a perder direitos e liberdades adquiridas. Como afirmou, “não há democracia forte sem uma Imprensa livre e independente”.
Sobre as mudanças trazidas pela revolução digital, reconhece que elas “ameaçam a sobrevivência dos meios tradicionais”, mas que vão continuar a dar-se, e com maior velocidade, pelo que é necessário aceitá-las e investir nelas. Declarou que “as redes sociais são vitais” e que os jornalistas deverão “escutar mais e melhor”, e ir aonde estão as pessoas, para lhes fazer chegar a Informação.
Martin Baron entrou em diversos pontos concretos, afirmando que “temos de criar novos projectos tecnológicos, que funcionem com os leitores e os anunciantes”, e que serão necessárias alianças “com empresas tecnológicas como o Facebook, Snapchat ou outras que apareçam”.
Sobre a questão da verdade, afirmou que nos EUA “apenas 32% da população acredita que a informação publicada pelos media é verdadeira; e, no caso dos Republicanos, este número cai para os 14% depois das últimas eleições presidenciais”.
Concluindo, declarou que não se pode permitir “que a mentira se imponha acima dos factos” e que os jornalistas não devem cair na auto-censura “por medo ao poder”, mas “continuar contando a verdade”.
O artigo no site da APM e o vídeo da conferência de Martin Baron
Na Rússia, alguns “media” estão a utilizar métodos pouco convencionais para realizar reportagens de investigação e escrutinar o governo de Vladimir Putin.
De acordo com o “New York Times”, estas publicações estão a recorrer à rede social Telegram e à “darkweb” para aceder a bases de dados, obter informações sobre geolocalização e, ainda, consultar registos de viagens aéreas.
Estes métodos são conhecidos por “probiv” -- “perfurar”, em tradução livre -- e permitiram identificar, por exemplo, a célula responsável pelo envenenamento do líder da oposição, Alexei Navalny.
Além disso, graças ao “probiv”, estes projectos de “media” conseguiram publicar histórias exclusivas sobre a “família secreta de Putin” e sobre a interferência russa, em 2016, nas eleições presidenciais norte-americanas.
Com tudo isto, o jornalismo independente russo atingiu um nível “que não se via desde o final da década de 1990”, considerou Denis Volkov, o director do Levada Center, um grupo de pesquisa de opinião pública.
O “probiv” é, contudo, um fenómeno exclusivo da Rússia, já que a maioria dos “media” internacionais rege-se pelo princípio ético de não pagar por informação roubada.
“ As nossas audiências não querem saber se a informação foi ou não roubada”, afirmou Roman Anin, o fundador da plataforma iStories. “Como vivemos num país onde as autoridades matam os líderes de oposição, esquecemo-nos dessas regras [de ética], porque as nossas histórias são muito mais importantes”.
Da mesma forma, o criador do “site” Proekt, Roman Badanin, considera que o número de leitores compensa qualquer desrespeito pelo código deontológico.
A jornalista portuguesa Catarina Canelas recebeu o Prémio Rei de Espanha na Categoria de Ambiente, graças à reportagem "Plástico: o Novo Continente".
Atribuída por unanimidade do júri, a distinção sublinha as “imagens impactantes que reflectem um enorme problema global e a invasão dos plásticos nos mares”.
Graças a estes elementos visuais, a reportagem conseguiu destacar-se entre as 155 candidaturas submetidas por mais de duas dezenas de países ibero-americanos.
Composta por sete episódios e exibida, pela TVI, em Agosto do último ano, a série documental foi realizada em conjunto com João Franco, Nélson Costa e Teresa Almeida, resultando num trabalho que, “documenta de forma extensa, (..) os perigos que pressupõem a presença do plástico no oceano”.
Esta reportagem contou, ainda, com a “opinião de especialistas, investigadores, cientistas, organizações conservacionistas e ecologistas que trabalham também na luta contra o plástico”.
A jornalista afirmou, entretanto, através das redes sociais que,“este reconhecimento de uma distinção tão importante a nível internacional é uma honra e um orgulho imenso”.
A série de reportagens está disponível no TVI Player.
Ao completar 40 anos de actividade ininterrupta o CPI – Clube Português de Imprensa tem um histórico de que se orgulha. Foi a 17 de dezembro de 1980 que um grupo de entusiastas quis dar forma a um projecto inédito no associativismo do sector.
Não foi fácil pô-lo de pé, e muito menos foi cómodo mantê-lo até aos nossos dias, não obstante a cultura adversarial que prevalece neste País, sempre que surge algo de novo que escapa às modas em voga ou ao politicamente correcto.
O Clube cresceu, foi considerado de interesse público; inovou ao instituir os Prémios de Jornalismo, atribuídos durante mais de duas décadas; promoveu vários ciclos de jantares-debate, pelos quais passaram algumas das figuras gradas da vida nacional; editou a revista Cadernos de Imprensa; teve programas de debate, em formatos originais, na RTP; desenvolveu parcerias com o CNC- Centro Nacional de Cultura, Grémio Literário, e Lusa, além de outras, com associações congéneres estrangeiras prestigiadas, como a APM – Asociacion de la Prensa de Madrid e Observatório de Imprensa do Brasil.
A convite do CNC, o Clube juntou-se, ainda, à Europa Nostra para lançar, conjuntamente, o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, instituído pela primeira vez em 2013, em, homenagem à jornalista, que respirava Cultura, cabendo-lhe o mérito de relançar o Centro e dinamizá-lo com uma energia criativa bem testemunhada por quem a acompanhou de perto.
Mais recentemente, o Clube lançou os Prémios de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o jornal A Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares, procurando preencher um vazio que há muito era notado.
Uma efeméride “redonda” como esta que celebramos é sempre pretexto para um balanço. A persistência teve as suas recompensas, embora, hoje, os jornalistas estejam mais preocupados com a sua subsistência num mercado de trabalho precário, do que em participarem activamente no associativismo do sector.
Sabemos que esta realidade não afecta apenas o CPI, mas a generalidade das associações, no quadro específico em que nos inserimos. Seriam razões suficientes para nos sentarmos todos à mesa, reunindo esforços para preparar o futuro.
Com este aniversário do CPI fica feito o convite.
A Direcção